domingo, 1 de maio de 2011

Discurso sobre o porque eu não procurei teus olhos naquela noite

(Agosto, 2010)

Você não sabe o que é acordar de um pesadelo e não saber se ele é real. E isso me ocorreu tantas vezes...
Não, eu mal conseguia dormir, se dormia era uma questão de inconsciência, dormia porque o cansaço era maior, e só. Imaginava aqueles olhos no escuro e apagava, não sabia o que aconteceria depois. Era como um livro que eu não tivesse terminado de ler, e que não tornaria a lê-lo nunca mais. 
E então eu procurava teus olhos, não sem nem sentir culpa nisso, procurava para anular outros olhos, aqueles olhos no escuro. E então eu pensava neles, nos teus olhos, antes de dormir, antes que pudesse dar a chance de lembrar dos outros olhos, pra poder sonhar com eles, e não ter aquele pesadelo, aquele mesmo pesadelo novamente. 
Mas eu não podia procurar teus olhos sempre, nem devia, por uma questão de princípios, não era justo que você tivesse que me doar, me emprestar, teus olhos todas as vezes que eu precisasse, como se você tivesse alguma obrigação com isso. Não tem. Até porque, as vezes procuro teus olhos e não encontro, eles fogem de mim, vão para outras partes, praticam uma cruel trajetória, ao contrário daqueles outros olhos, que ainda me perseguem mesmo que eu não pudesse vê-los.  
É claro que eu não os culpo, como disse, são teus olhos, te pertencem, e disso mais nada sei. Por quê, ao contrário de ser vencida por aqueles olhos no escuro, eu deixei você escolher, eu me deixei vencer pelos teus.