domingo, 15 de maio de 2011

Tia Nerina

Naquele tempo as senhoras ocupavam suas tardes cozinhando em fogões a lenha e fornos construídos em suas casas.  Faziam bolos e tortas, tantos, que já não se sabia com que recheio preencher os bolos, nem que cobertura dar a eles. Tia Nerina era dessas. Doceira de mão cheia, também, pudera, havia recebido de herança o livro de receitas da família, o mesmo que lhe fizera provar todas elas, e se dedicar minuciosamente a seus preparos. Tia Nerina era enorme, e sua maior preocupação era que não coubesse em seu próprio caixão na hora da morte. Desde que se dera conta de sua morte, Tia Nerina havia sido invadida pela idéia de que não poderia ser enterrada por causa de seu tamanho, e que se não pudesse descer a 3 metros da terra, não poderia subir ao céus. Dizia: “Se me jogar na frente de um carro, ele não irá me matar. Mas me jogar na frente de um ônibus, ah! Isso eu não poderia!”. Ninguém levava a sério as considerações de Tia Nerina a respeito de sua própria morte. Até que um dia Tia Nerina se jogou na linha do trem.