A mãe havia sido bem clara dizendo que não queria mais ver o menino brincando com fogo. Mas não havia dito nada sobre as lagartas-de-fogo. Gostava de brincar em um parquinho abandonado próximo a escola, lá ele encontrava pequenos insetos, lagartas que deixavam um rastro de fios finíssimos por onde passavam. Elas eram pequenas, quase do tamanho de seus dedos de menino. Haviam outras lagartas por ali, umas com cabeça preta , parecida a um grão, e o corpo revestido de um veludo verde, vermelho e preto xadrez, o menino dizia que aquela era a rainha das lagartas. As meninas da escola corriam assustadas, diziam que o menino estava brincando com fogo: "Claro que não", dizia ele, "Elas não fazem nada", e pegava-as na palma da mão demonstrando sua sabedoria infantil acerca da natureza.
Um dia o menino estava deitado no parque contando o número de folhas que havia numa árvore, e de repente viu uma lagarta diferente. Ela era de um verde vivo, quase fluorescente, com pêlos que soltavam de seu corpo como ramos de um pequeno arbusto. O menino não hesitou em querer pega-la na mão. Sentiu sua pele queimar quando a encostou, soltou a lagarta e levou a mão aos lábios para conter a dor. Mas era tarde. Essa fora a última vez que a viu.