“Os guarda-chuvas perdidos.. aonde vão parar Os guarda-chuvas perdidos? E os botões que se desprenderam? E as pastas de papéis, os estojos de pince-nez, as maletas esquecidas nas gares, as dentaduras postiças, os pacotes de compras, os lenços com pequenas economias, aonde vão parar todos esses objetos heteróclitos e tristes? Não sabes? Vão parar nos anéis de Saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis desse planeta misterioso e amigo.”
Mário Quintana
Mário Quintana
Pois eu digo que é melhor que não saibamos aonde as coisas perdidas vão parar, nem a quantas anda a maré da boa fortuna ou da desventura, que ela venha e simplesmente nos engula com seu paladar amargo, aquele que reina no hálito lendário das moiras que cortam e medem os fios do nosso tempo, nós os fantoches, tendo a ilusão das escolhas, por que mesmo sendo erradas não são nossas. Nem os comandantes dos grandes exércitos, nem os reis foram obedecidos, porque de fato não comandaram nada, pois há os agravantes, os empecilhos, os semáforos, os contratos, as leis jurídicas, químicas, físicas, na lógica de que um evento qualquer , número 1: x determina o evento número 2: y, que determina o terceiro da seqüência e assim por diante, levando todas as coisas a serem historicamente desenhadas pelo passeio simétrico do pêndulo das horas, verdugo admirável, ou pelo passeio circular dos seus ponteiros, e eu lhes pergunto agora, onde estará então o lugar para nossas escolhas? E você me responderá que não importa, e que há uma ordem no coração das coisas, mas que esta ordem, é uma ordem de sangue.
Figura: Kandinski
Figura: Kandinski