quinta-feira, 28 de abril de 2011



Quando era criança seu brinquedo favorito era formar arco-irís. Enchia baldes e mais baldes de água e neles colocava os espelhos, sempre perto da janela para que ali encontrassem o sol (como assim tinha lido em seu livro de meninices). A mãe não sabia para quê eram os espelhos, imaginava que desde cedo a menina havia se transformado em narciso, mas a menina mal se olhava no espelho, não gostava da sensação de estar em dois lugares ao mesmo tempo. "É confuso estar em dois lugares ao mesmo tempo", dizia, "e ainda por cima fazendo tudo ao contrário!"
Então levava os espelhos com cuidado, debaixo do braço, para que não se quebrassem e trouxessem maus agouros para a família. E fazia os arco-íris pintarem as cores do teto, do chão e até o próprio corpo, colando seu rosto na superfície da água, sonhando um dia se converter em luz: na palheta de sete cores.