domingo, 17 de abril de 2011

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Hoje de manhã uma borboleta fantasma atravessou o meu corpo.
Vi-a vindo em minha direção, cambaleando no ar - como é de costume o vôo das borboletas - até que ela me cruzou, e por um momento pensei que ela tivesse se perdido em mim.  Mas depois a vi partir, seguindo seu inveterado itinerário sinuoso.
De dia, o ônibus não parou para me deixar subir, nem os vizinhos me cumprimentaram na rua e quando fui ao supermercado as portas elétricas não se abriram para mim. E então tentei olhar pelas portas espelhadas e vi a cara de um homem segurando um guarda-chuva nas mãos, e não era eu (eu nem tinha um guarda-chuva nas mãos, por sinal, eu nem era um homem!), mas de repente vi que o homem estava de costas para mim, e de repente eu estava a dois dedos de sua nuca, até ele continuar se afastando e entrar pelas portas espelhadas do supermercado.E foi aí que eu percebi: Aquele homem tinha me atravessado.
O fantasma, era eu.

figura: Samira Abbassy