terça-feira, 26 de abril de 2011

Hoje, a palavra aqui será ingrata, combinada de uma realidade não tão distante daquela de quem a escreve.
Você me perguntaria por que não lhe contei os pormenores de uma certa sexta-feira,  e eu te daria alguns argumentos que você negaria. A verdade é que não tenho tais argumentos, a única coisa que diria, ainda lamentando, era que movidos pelo impulso de viver, pela confusão do não saber, somos fatalmente predestinados ao erro. E haveremos de errar para sempre, paralelamente ligados a alguns deliciosos enganos e ilusões, meras coincidências que viriam a nos parecer grandiosas e premeditadas escolhas de terceiros (um jogo, talvez?). Eu poderia dizer que fora falta de escrúpulos dos deuses, ou de mim mesma, mas ao mesmo tempo teria a ousadia de lhe perguntar porque é que isso realmente importa agora, se eu sabia que essa distância estúpida não faria com que eu viesse a te esquecer nem que você viesse a pensar em mim, porque o amor também é feito desta coisa mal-ordenada, mal-resolvida, mal-contada, mal-acabada, e retifico o que disse anteriormente em outras cartas, afirmando que o amor é também feito de desencontros, e muito mais destes, se não, do que mais falariam os poetas? Eu diria que de muitas coisas, de todas as demais, mas com menos vida, menos cor.
Você não entenderia minhas razões nem a falta delas. Foi porque parecia certo ser, essas coisas não se explicam.
Eu poderia ter dito também o que ocorrera naquele fatídico sábado dia 12 de fevereiro, e nos dois anos que precederam essa data, e de como tudo se apagara, assim de repente, como se fosse um sonho, como se nunca tivera acontecido. Só aí talvez você viria a me diagnosticar com uma instabilidade clínica, grave, mas não intencional, e mesmo assim viria a me julgar, e a me apontar todos aqueles defeitos que tinha investigado sobre mim e que te fariam se afastar e propor a distância como a única cura para os nossos males. Eu já ouvi essa mesma história contada por outras bocas, e  você resolveu me proferir as mesmas palavras de outrem, é porque nunca conheceu o abandono, enquanto eu nunca conheci outra palavra que não o adeus. Você conhece apenas a sensação de uma longa espera, porque nunca se entregou de fato, nunca tentou. Enquanto eu, todas as vezes que tentei falhei. E rodeada por esse desespero me dilacero em praça pública esperando que os abutres venham então se servir do banquete de minha carne.
E isto, não é literatura.