sábado, 5 de março de 2011

Reflexões Black Swan

O filme Cisne Negro pode ser alvo de inúmeras análises, possui múltiplas facetas, uma complexidade e uma intensidade ímpar, resultando em uma obra completamente visceral e estonteante.
Segundo Aristóteles “A arte imita a alma humana”, no entanto, no filme existe um balanço que nos faz questionar, se é a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Nina dá prioridade a perfeição técnica, muito distante da idéia de perfeição em Aristóteles , e também da psicologia, onde o homem é formado de luz e sombra. Por definição, perfeição é ser inteiro, completo, assim, o filme tem como foco a metamorfose, a busca da perfeição, tanto no sentido da arte como na essência humana.
Essa busca pela perfeição em Nina se dá em etapas através do autoconhecimento. Primeiro há as projeções: A mãe, Erica Sayers, se projeta na filha, no seu sucesso, o almeja como se fosse o próprio, ficando obcecada pela filha e passando horas a fio pintando quadros com sua figura. Nina, por sua vez se projeta primeiro em Beth Macintyre, uma famosa bailarina que entra em decadência. Quando vê Beth no hospital ela quebra sua projeção, ao mesmo tempo que projeta seu lado obscuro em Lily, uma nova bailarina do grupo, por quem se sente incomodada e desconfortável. Lily representa tudo o que Nina reprime em si mesma, espontaneidade, sedução, malícia, emoção etc. Mas, ao mesmo tempo que Nina despreza toda essa alteridade em Lily, ela a almeja (aí há também um jogo do consciente e do inconsciente).
Os espelhos mostram algo que está além do que Nina espera ver, um lado seu desconhecido, o qual coincide com o lado obscuro projetado em Lily, e através destes começa parte do seu reconhecimento. Thomas Leroy, o diretor também procura ajudar Nina nessa transição, ele reconhece a projeção causada em Lily “A única pessoa que está em seu caminho é você mesma”, mas Nina só se dá conta disso quando se vê atingida por sua própria sombra, ao final do filme. A automutilação é conseqüência da metamorfose, está sempre presente, assim, podemos supor que é preciso que exista destruição para que algo novo e perfeito se construa.
Na última cena Nina mergulha em seu estado sublime, atingindo a perfeição, e seus olhos estão abertos, não porque foi vazia a entrega, mas porque ela sabe, ela está consciente, ela literalmente vê: era perfeito.