segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Manoel de Barros

"Distâncias somavam a gente para menos.
 Nossa morada estava tão perto do abandono que dava até 
para a gente pegar nele.
Eu conversava bobagens profundas com os sapos,
 com as águas e com as árvores.
Meu avô abastecia a solidão.
A natureza avançava nas minhas palavras tipo assim:
O dia está frondoso em borboletas.
 No amanhecer o sol põe glórias no meu olho.
O cinzento da tarde me empobrece.
 E o rio encosta as margens na minha voz.
 Essa fusão com a natureza tirava de mim a liberdade de pensar.
 Eu queria que as garças me sonhassem.
Eu queria que as palavras me gorjeassem.
Então comecei a fazer desenhos verbais de imagens.
 Me dei bem (...) Poesia é a infância da língua.
Sei que os meus desenhos verbais nada significam.
Nada. Mas se o nada desaparecer a poesia acaba.
 Eu sei. Sobre o nada tenho profundidades"