Coisa velada, ela disse, coisa velada.
Eu quis dizer também que sentia a coisa velada, desse jeito mesmo, ela entenderia. Disse.
Continuei, "coisa velada", literatura nenhuma me satisfez falando sobre isso, aliais, literatura alguma, nenhures, eu diria, nenhures - descobri esta palavra esses dias. Chega de repetir, eu deveria mesmo era dizer pra ela que nem tudo precisava ser assim, mas soaria trapaça nestes lábios, sim, coisa velada, a verdade é que concordo com a premissa, todo dia é dia de caça, e a coisa velada, lâmina, faca de dois gumes. Ela não sabe que pra mim isso é veladíssíssimo, falo amor-amor , amor-pássaro-no-ninho, pronto, disse tudo, estou eu também, por falta de mais artifícios, reduzida a profundeza.
Eu disse "Quando eu cheguei aqui você não achou que eu tinha problemas né Antônio?" eu disse " você achou que eu era uma qualquer inventado aquelas dores, mas então agora você sabe, agora você sabe que eu não sou amena, Antônio, você viu? Vê que tudo aquilo queima vivo dentro de mim? Aos dez, aos vinte, a coisa velada também, entre outros mistérios, a morte eu vi com meus olhos de vidro estilhaçado, a coisa velada, sangue que ela queria consertar nele, e ver que dela não saiu nenhuma gota, nenhuma gota aquela noite, e o que ela mais queria era sangrar, entende? e é isso a coisa velada, veladíssíssima ela enxugando, era bonito, não eu não falo sobre isso." E eu disse " Acho que escolhi meu poema, é aquele do vento e das folhas, o outro eu ainda não sei, queria dizer sobre aquela Antígona, que foi emparedada viva, não não, isso parece triste, talvez aquele outro da oração, até que eu gosto daquele, mas reli um esses dias, não é nem tão triste assim, na história eu era um fantasma, eu era um fantasma e não sabia, mas tá bom né?", "-Mas o que é que você está falando? você nem escreve!" , ela disse, eu disse "eu sei eu sei, mas será, até que dava, queria escrever óperas, isso mesmo, você me escreve alguma coisa que eu componho pra você, vai dar tudo certo no final, a gente até pode dizer dessa miséria toda, da palidez do pão nosso de cada dia, dos ovos que se quebraram na mudança, sim sim." Ela começou a escrever sobre os ovos, naquele dia eu sabia que não era uma boa idéia levar eles assim, ainda mais as plantas, mas enfim. "Vamos vamos, venha assistir à minha aula, quero dizer, não é minha mas, daquele professor bonito, com mãos bonitas e barba bem feita, pena que ele tem uma namorada austríaca." Eu fui, eu anotei algumas coisas : " Aberração metafísica" e "Vontade que age sobre o mundo" e sobre as quimeras: " é o homem, o homem que produz os próprios desejos, as próprias quimeras" e então pensei: "- Receber o mundo (a idéia do mundo), atuar no mundo (envolto de misérias) , criar-se, criar as quimeras, almoçar com elas, alimentá-las" Não pensou ela que podia ser uma oferenda? Aqueles ovos caídos, " não não, não é assim que se faz, com relaxo, tem que ser assim, coisa velada, COI-SA VE-LA-DA" agora ela só quer saber de verduras, talvez esteja certa, eu já tentei isso, nem vou dizer pra ela não tentar, a gente tenta tudo, faz quiromancia, onirocricia (esta palavra guardei da minha amiga Maria Isabel) enfim, conta os sonhos uma da outra, mas e ai volta, outro dia de caça, minha amiga, nem dentro de nossas casas, nem dentro das nossas casas a gente se salva.
Eu disse "Quando eu cheguei aqui você não achou que eu tinha problemas né Antônio?" eu disse " você achou que eu era uma qualquer inventado aquelas dores, mas então agora você sabe, agora você sabe que eu não sou amena, Antônio, você viu? Vê que tudo aquilo queima vivo dentro de mim? Aos dez, aos vinte, a coisa velada também, entre outros mistérios, a morte eu vi com meus olhos de vidro estilhaçado, a coisa velada, sangue que ela queria consertar nele, e ver que dela não saiu nenhuma gota, nenhuma gota aquela noite, e o que ela mais queria era sangrar, entende? e é isso a coisa velada, veladíssíssima ela enxugando, era bonito, não eu não falo sobre isso." E eu disse " Acho que escolhi meu poema, é aquele do vento e das folhas, o outro eu ainda não sei, queria dizer sobre aquela Antígona, que foi emparedada viva, não não, isso parece triste, talvez aquele outro da oração, até que eu gosto daquele, mas reli um esses dias, não é nem tão triste assim, na história eu era um fantasma, eu era um fantasma e não sabia, mas tá bom né?", "-Mas o que é que você está falando? você nem escreve!" , ela disse, eu disse "eu sei eu sei, mas será, até que dava, queria escrever óperas, isso mesmo, você me escreve alguma coisa que eu componho pra você, vai dar tudo certo no final, a gente até pode dizer dessa miséria toda, da palidez do pão nosso de cada dia, dos ovos que se quebraram na mudança, sim sim." Ela começou a escrever sobre os ovos, naquele dia eu sabia que não era uma boa idéia levar eles assim, ainda mais as plantas, mas enfim. "Vamos vamos, venha assistir à minha aula, quero dizer, não é minha mas, daquele professor bonito, com mãos bonitas e barba bem feita, pena que ele tem uma namorada austríaca." Eu fui, eu anotei algumas coisas : " Aberração metafísica" e "Vontade que age sobre o mundo" e sobre as quimeras: " é o homem, o homem que produz os próprios desejos, as próprias quimeras" e então pensei: "- Receber o mundo (a idéia do mundo), atuar no mundo (envolto de misérias) , criar-se, criar as quimeras, almoçar com elas, alimentá-las" Não pensou ela que podia ser uma oferenda? Aqueles ovos caídos, " não não, não é assim que se faz, com relaxo, tem que ser assim, coisa velada, COI-SA VE-LA-DA" agora ela só quer saber de verduras, talvez esteja certa, eu já tentei isso, nem vou dizer pra ela não tentar, a gente tenta tudo, faz quiromancia, onirocricia (esta palavra guardei da minha amiga Maria Isabel) enfim, conta os sonhos uma da outra, mas e ai volta, outro dia de caça, minha amiga, nem dentro de nossas casas, nem dentro das nossas casas a gente se salva.