sexta-feira, 31 de maio de 2013

Mar e Lua - Chico Buarque

"Amaram o amor urgente
As bocas salgadas pela maresia
As costas lanhadas pela tempestade
Naquela cidade
Distante do mar
Amaram o amor serenado
Das noturnas praias
Levantavam as saias
E se enluaravam de felicidade
Naquela cidade
Que não tem luar

Amavam o amor proibido
Pois hoje é sabido
Todo mundo conta
Que uma andava tonta
Grávida de lua
E outra andava nua
Ávida de mar
E foram ficando marcadas
Ouvindo risadas, sentindo arrepios
Olhando pro rio tão cheio de lua
E que continua
Correndo pro mar
E foram correnteza abaixo
Rolando no leito
Engolindo água
Boiando com as algas
Arrastando folhas
Carregando flores
E a se desmanchar
E foram virando peixes
Virando conchas
Virando seixos
Virando areia
Prateada areia
Com lua cheia
E à beira-mar"

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Que vá pro raio que o parta!

"Que vá pro raio que o parta!" , eu digo. Mas quem bem me conhece sabe que não deixo de emiti-lo sem que algo se parta bem maior dentro de mim, sem que logo me sinta partindo,sem raio nenhum... Eu que ando tão ocupada, vou me queixar de que? Eu que deixo tudo assim, tão em suspenso, tudo se perdendo, e mal me movo? Vá! Deixa-me queixar, se outra coisa não sei fazer.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Benzedeira

-Volta aqui depois de um mês, ela disse.
Me passou arruda, rezou baixinho...
Pensei se ela lia meus pensamentos, se lia meus sonhos,meus pesadelos,
fiquei com medo.
-Volta aqui, você volta né?
 -Volto, eu disse.
Pedi que rezasse por mim, como Aurora disse que ia rezar por mim toda vida,
e como ela...

domingo, 26 de maio de 2013

O Mundo é um Moinho

"[...]
Preste atenção, Querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés."

Cartola
O melhor momento para ler Gregor Samsa é pela manhã, quando minha carapaça ainda é regada pelos mistérios da origem incerta. Pela tarde não, à tarde meu invólucro é maciço e certeiro.
"Intensidade. Era apenas isso,
tudo o que eu sabia fazer."

Mora Fuentes

quinta-feira, 23 de maio de 2013

"O que é a que é" - Alice Ruiz

"Usada e abusada.
Palpável mas oca.
Amainada para mãe.
Acusada e recusada.
Calada e mal falada.
Alienada e esquecida.
Ordenada e ordenhada.
Solícita e solicitada.
Bordadeira e abordada.
Afastada e sempre à mão.
Moderada e bem adornada.
Dá a luz e vive escondida.
Transcende em decendência.
Mal informada forma pessoas.
Foi vocada a não ter vocações.
Sem necessidades, só caprichos.
Inclinada por instinto só ao lar.
Criticada e fadada a idade crítica.
Economica nada entende de Economia.
Domingo, dia do Senhor, não descança.
O no homem é estilo nela é relaxo.
Não dá tom e dança conorme a música.
Chora quando não tem mais nada a dizer.
Consumidora voraz é vorazmente consumida.
E o que mais consta e o que menos se nota.
No dicionário figura como a fêmea do homem.
Para compreender não tem muito o que aprender.
A melhor paisagem atrás do buraco da fechadura.
Produz pouco porque já reproduz e isso lhe basta.
Não precisa ser atualizada mas deve andar na moda.
A força que dispende para ser frágil continua oculta.
As suas tentativas de participação recebem como intromissão.
Já que não tem responsabilidade não pode ter mal humor.
Tem que ser uma obra de arte que não fique para a posterioridade.
Perde tanto sangue que fica com o que se chama por aí de "Sangue de Barata".
Dócil, meiga, sutil e submissa, deixa aos homens os defeitos correspondentes.
PRECISA-SE DE: TORNEIRO MECÂNICO, CONTADOR, ANALISTA DE SISTEMAS, ENGENHEIROS, ETC, COM CAPACIDADE COMPROVADA, E DE UMA RECEPCIONISTA COM ÓTIMA APARÊNCIA.
Pode escolher entre o céu e o inferno mas a terra não, esta é do sexo oposto.
Entrave para a liberdade masculina através das trevas da obediência.
Quanto mais espírito melhor, mas o futuro acaba junto com a beleza.
Se for grande é porque está por detrás de um grande homem.
Sempre esperando e levando a fama de se fazer esperar.
Seu entusiasmo é chamado de assanhamento.
Nascida para dentro, aí ficará até
que a terra coma o resto, que
os filhos e os homens deixam.
Faz par mas embaixo."


em "Navalhanaliga" é apresentado como manifesto feminista da autora.
Acabei de LEr o Minski
mas prefiro ainda Alice
e ainda mais Helena
sem esquecer Manoel
pra não dizer do Pessoa.

"Todo abismo é navegável à barquinhos de papel" Guimarães Rosa

Dizer eu digo, sem amarras,
falo mais do que aguenta a boca
assumo, admito.
Aos outros cabe:
me condenar, me perdoar,
cada um responde pelo de dentro
tem cabimento? cabe
não cabe, azar.

Se precisar, eu mesma me condeno
eu mesma me perdoô.

Antigamente, se morria.

"Antigamente, se morria.
1907, digamos, aquilo sim
é que era morrer.
Morria gente todo dia,
e morria com muito prazer,
já que todo mundo sabia
que o Juízo, afinal, viria,
e todo mundo ia renascer.
Morria-se praticamente de tudo.
De doença, de parto, de tosse.
E ainda se morria de amor,
como se amar morte fosse.
Pra morrer, bastava um susto,
um lenço no vento, um suspiro e pronto,
lá se ia nosso defunto
para a terra dos pés juntos.
Dia de anos, casamento, batizado,
morrer era um tipo de festa,
uma das coisas da vida,
como ser ou não ser convidado.
O escândalo era de praxe.
Mas os danos eram pequenos.
Descansou. Partiu. Deus o tenha.
Sempre alguém tinha uma frase
que deixava aquilo mais ou menos.
Tinha coisas que matavam na certa.
Pepino com leite, vento encanado,
praga de velha e amor mal curado.
Tinha coisas que tem que morrer,
tinha coisas que tem que matar.
A honra, a terra e o sangue
mandou muita gente praquele lugar.
Que mais podia um velho fazer,
nos idos de 1916,
a não ser pegar pneumonia,
deixar tudo para os filhos
e virar fotografia?
Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Mas ninguém tem culpa.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.
Almoçou e fez a barba,
tomou banho e foi no vento.
Não tem o que reclamar.
Agora, vamos ao testamento.
Hoje, a morte está difícil.
Tem recursos, tem asilos, tem remédios.
Agora, a morte tem limites.
E, em caso de necessidade,
a ciência da eternidade
inventou a criônica.
Hoje, sim, pessoal, a vida é crônica."

 Paulo Leminski

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Oração de Pajé

Que eu seja erva raio
no coração de meus amigos
árvore força
na beira do riacho
pedra na fonte
estrela
           na borda
                          do abismo.


Paulo Leminski
É tempo de construir!
Não há mais espaço em meu peito para todos aqueles desassossegos,
é tempo de agir no mundo, e agir no mundo com vontade.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Que pena tudo ser uma mentira
e pior ainda,
uma mentira que não me interessa.
É essa mise-en-scène que me mata.
Livra-me dos palcos e das coxias!
Livra-me dos roteiros mais aclamados!
eu,
que nunca fui boa atriz.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Prazer
da pura percepção
os sentidos
sejam a crítica da razão.

Paulo Leminski
Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um Saara de páginas,
Essa infinita madrugada.

Viver de noite,
me fez senhor do fogo.
A vocês eu deixo o sono.
O sonho não,
Esse, eu mesmo carrego.

Paulo Leminski

domingo, 19 de maio de 2013

Tu me bastas!
Por ti esqueço todos os desacertos do mundo!
Minto, é claro, não esqueço,
a poesia faz dessas com a gente,
Mas viajo no teu pensar, no teu sentir,
e habito o mundo de outra forma do teu lado
do lado? de que lado, se não te vejo?
estás no seio de meus pensamentos,
dos meus sentidos,
no todo de mim.

sábado, 18 de maio de 2013

"O mundo é um vórtice infinito de possibilidades, e o que impulsiona o homem não é representar um jogo de cartas marcadas, mas confiar na energia da pura vontade, na paixão de seus sentimentos e na lucidez de sua razão [...] e se cada inviduo é um ser contraditório entre as pressões de sua vontade, de seus sentimentos e de sua razão , cabe a cada um encontrar suas respostas para a estranha equação do homem. " Nicolau Sevcenko

"Só subi a montanha porque desejava tua impossível cama" Rútilos - Hilda Hilst

(Baseado em fatos reais...)

A falsa eternidade


O verbo prorrogar entrou em pleno vigor, e não só se prorrogaram os mandatos como o vencimento de dívidas e dos compromissos de toda sorte. Tudo passou a existir além do tempo estabelecido. Em conseqüência não havia mais tempo.
Então suprimiram-se os relógios, as agendas e os calendários. Foi eliminado o ensino de História para que História? Se tudo era a mesma coisa, sem perspectiva de mudança.
A duração normal da vida também foi prorrogada e, porque a morte deixasse de existir, proclamou-se que tudo entrava no regime de eternidade. Aí começou a chover, e a eternidade se mostrou encharcada e lúgubre. E o seria para sempre, mas não foi. Um mecânico que se entediava em demasia com a eternidade aquática inventou um dispositivo para não se molhar. Causou a maior admiração e começou a receber inúmeras encomendas. A chuva foi neutralizada e, por falta de objetivo, cessou. Todas as formas de duração infinita foram cessando igualmente.
Certa manhã, tornou-se irrefutável que a vida voltara ao signo do provisório e do contingente. Eram observados outra vez prazos, limites. Tudo refloresceu. O filósofo concluiu que não se deve plagiar a eternidade.

Carlos Drummond de Andrade

Contos Plausíveis, in Andrade, C. D. (1992): Poesia e Prosa, Rio de Janeiro: Aguilar, pg. 1233.

Evgen Bavcar





sexta-feira, 17 de maio de 2013

"Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós olham as estrelas." Oscar Wilde

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Guardo todos os meus antigos amores no bolso, aqueles que se concretizaram, aqueles que não. Olho-os com a ternura merecida, pois acredito que conhecer um homem é conhecer suas paixões, e se deixo meus amores assim, sem minha ternura, mesmo os mais errantes, é porque não os merecí, penso eu. Mas deixo que a leveza me acompanhe, 
contemplo, 
dou ao indelével o que é do indelével, 
sem ser força centrípeta.

terça-feira, 14 de maio de 2013

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Pois eram dela os olhos que me salvavam, me salvavam daqueles outros olhos no escuro.
Tirei ambos os trechos do mesmo lugar, meu amor-amor, amor-pássaro, e de repente me deu uma vontade de ler tudo o que ela já tinha lido, ver todas as coisas que ela já tinha visto, só porque... eram dela, era o jeito de aproximar ela, deixar ela perto de mim novamente.
Leria Proust, Bocage, Balzac, iria para a Itália, Roma, Lisboa, Paris...Paris que até aquele momento ela nunca tinha ido, eu queria que tivessemos visitado Paris. Ainda guardo comigo, as cartas, os contos, e na memória, os jantares, o almoço no meio da tempestade, as voltas a pé para casa, a voz, os quadros, os objetos da casa, tudo com o mais absoluto e mais profundo de mim, guardo em memória dela. E a lembro sempre, sempre com o mais valoroso desejo de tornar vivo novamente tudo o que vivi, O mais doce. O mais doce. O mais doce.

Todo o caminho é resvaloso



"Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica demais,
a gente levanta, a gente sobe, a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta, esfria, aperta e
daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa

...



Ação X Reação

"Dois colegas foram a banca de jornais, um deles comprou um jornal e agradeceu cortesmente. O jornaleiro nem se abalou.
-Sujeito mal-encarado, não é? - comentou o outro.
-Oh, ele é sempre assim- respondeu o que tinha comprado o jornal.
-E por que você ainda é gentil com ele?
- Por que não?
Por que iria deixar que fosse ele quem decidisse como eu devo agir?"

M.C.

Conluio

E eles estarão no teu encalço,
no pátio do desafeto,
tramando tua queda.



domingo, 12 de maio de 2013

...



Olhos azuis, olhos de sátiro. E uma voz que tremula pelas paredes da casa: tenor, identifico.  
Olhos que temi que voltassem aos meus sonhos, intraduzíveis sonhos repletos de uma verdade que não sei.
Bebem do nosso vinho, penso, estes olhos investigativos, essa voz como uma trompa, as trombetas do inferno, anunciando sua passagem.
Volto-me às “Ficções” do Borges, que melhor fonte poderia beber nessas horas?
Conferir-me a noção do imaginável possível, e da realidade impossível.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

[...] Pois o homem que se curva demasiado acaba por engolir os próprios pés. E farta-se, farta-se de sí mesmo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Luz e sombra - Helena Kolody

Luz e sombra
lutam n'alma.

Só depois do sol ausente,
impera a noite.

Derrotadas
terra e treva,
reina a luz eternamente.

domingo, 5 de maio de 2013

Coisa velada, ela disse, coisa velada. 
Eu quis dizer também que sentia a coisa velada, desse jeito mesmo, ela entenderia. Disse.
Continuei, "coisa velada", literatura nenhuma me satisfez falando sobre isso, aliais, literatura alguma, nenhures, eu diria, nenhures - descobri esta palavra esses dias. Chega de repetir, eu deveria mesmo era dizer pra ela que nem tudo precisava ser assim, mas soaria trapaça nestes lábios, sim, coisa velada, a verdade é que concordo com a premissa, todo dia é dia de caça, e a coisa velada, lâmina, faca de dois gumes. Ela não sabe que pra mim isso é veladíssíssimo, falo amor-amor , amor-pássaro-no-ninho, pronto, disse tudo, estou eu também, por falta de mais artifícios, reduzida a profundeza.
Eu disse "Quando eu cheguei aqui você não achou que eu tinha problemas né Antônio?" eu disse " você achou que eu era uma qualquer inventado aquelas dores, mas então agora você sabe, agora você sabe que eu não sou amena, Antônio, você viu? Vê que tudo aquilo queima vivo dentro de mim? Aos dez, aos vinte, a coisa velada também, entre outros mistérios, a morte eu vi com meus olhos de vidro estilhaçado, a coisa velada, sangue que ela queria consertar nele, e ver que dela não saiu nenhuma gota, nenhuma gota aquela noite, e o que ela mais queria era sangrar, entende? e é isso a coisa velada, veladíssíssima ela enxugando, era bonito, não eu não falo sobre isso." E eu disse " Acho que escolhi meu poema, é aquele do vento e das folhas, o outro eu ainda não sei, queria dizer sobre aquela Antígona, que foi emparedada viva, não não, isso parece triste, talvez aquele outro da oração, até que eu gosto daquele, mas reli um esses dias, não é nem tão triste assim, na história eu era um fantasma, eu era um fantasma e não sabia, mas tá bom né?", "-Mas o que é que você está falando? você nem escreve!" , ela disse, eu disse "eu sei  eu sei, mas será, até que dava, queria escrever óperas, isso mesmo, você me escreve alguma coisa que eu componho pra você, vai dar tudo certo no final, a gente até pode dizer dessa miséria toda, da palidez do pão nosso de cada dia, dos ovos que se quebraram na mudança, sim sim." Ela começou a escrever sobre os ovos, naquele dia eu sabia que não era uma boa idéia levar eles assim, ainda mais as plantas, mas enfim. "Vamos vamos, venha assistir à minha aula, quero dizer, não é minha mas, daquele professor bonito, com mãos bonitas e barba bem feita, pena que ele tem uma namorada austríaca." Eu fui, eu anotei algumas coisas : " Aberração metafísica" e "Vontade que age sobre o mundo" e sobre as quimeras: " é o homem, o homem que produz os próprios desejos, as próprias quimeras"  e então pensei: "- Receber o mundo (a idéia do mundo), atuar no mundo (envolto de misérias) , criar-se, criar as quimeras, almoçar com elas, alimentá-las" Não pensou ela que podia ser uma oferenda? Aqueles ovos caídos, " não não, não é assim que se faz, com relaxo, tem que ser assim, coisa velada, COI-SA VE-LA-DA" agora ela só quer saber de verduras, talvez esteja certa, eu já tentei isso, nem vou dizer pra ela não tentar, a gente tenta tudo, faz quiromancia, onirocricia (esta palavra guardei da minha amiga Maria Isabel) enfim, conta os sonhos uma da outra, mas e ai volta, outro dia de caça, minha amiga, nem dentro de nossas casas, nem dentro das nossas casas a gente se salva.

sábado, 4 de maio de 2013

"Refiro-me ao sol. Até agora limpidez ascensão verticalidade"

Hilda Hilst
"Meu mais fundo em espirais até encontrar a calma. Calma como será? cor de terra? azul anil? branco pastoso?"

Hilda Hilst

sexta-feira, 3 de maio de 2013

...



Repeti aquela noite em pensamento. Repeti pensando nossos dois corpos ali estirados lado a lado, dois vagalumes, como ela disse. Repeti meus primeiros gestos, até a hora em que se levantou e acendeu a vela. Nesta hora, já tarde da noite, imaginei-me levantando, desta vez para deitar-me ao lado dela, sem nada pretender além de tomá-la em meus braços e lhe amansar os cabelos na palma, nos dedos, rodeá-la de mim. Sem a febre desejosa do corpo. Com carícia morna, em doce gesto , leve e casto.
Como se nos amássemos a longas eternidades.
Como se nos amássemos.