quinta-feira, 28 de abril de 2011



Quando era criança seu brinquedo favorito era formar arco-irís. Enchia baldes e mais baldes de água e neles colocava os espelhos, sempre perto da janela para que ali encontrassem o sol (como assim tinha lido em seu livro de meninices). A mãe não sabia para quê eram os espelhos, imaginava que desde cedo a menina havia se transformado em narciso, mas a menina mal se olhava no espelho, não gostava da sensação de estar em dois lugares ao mesmo tempo. "É confuso estar em dois lugares ao mesmo tempo", dizia, "e ainda por cima fazendo tudo ao contrário!"
Então levava os espelhos com cuidado, debaixo do braço, para que não se quebrassem e trouxessem maus agouros para a família. E fazia os arco-íris pintarem as cores do teto, do chão e até o próprio corpo, colando seu rosto na superfície da água, sonhando um dia se converter em luz: na palheta de sete cores.
Ninguém lhe contou que passara do lamentável ao ridículo em um piscar de olhos.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Hoje, a palavra aqui será ingrata, combinada de uma realidade não tão distante daquela de quem a escreve.
Você me perguntaria por que não lhe contei os pormenores de uma certa sexta-feira,  e eu te daria alguns argumentos que você negaria. A verdade é que não tenho tais argumentos, a única coisa que diria, ainda lamentando, era que movidos pelo impulso de viver, pela confusão do não saber, somos fatalmente predestinados ao erro. E haveremos de errar para sempre, paralelamente ligados a alguns deliciosos enganos e ilusões, meras coincidências que viriam a nos parecer grandiosas e premeditadas escolhas de terceiros (um jogo, talvez?). Eu poderia dizer que fora falta de escrúpulos dos deuses, ou de mim mesma, mas ao mesmo tempo teria a ousadia de lhe perguntar porque é que isso realmente importa agora, se eu sabia que essa distância estúpida não faria com que eu viesse a te esquecer nem que você viesse a pensar em mim, porque o amor também é feito desta coisa mal-ordenada, mal-resolvida, mal-contada, mal-acabada, e retifico o que disse anteriormente em outras cartas, afirmando que o amor é também feito de desencontros, e muito mais destes, se não, do que mais falariam os poetas? Eu diria que de muitas coisas, de todas as demais, mas com menos vida, menos cor.
Você não entenderia minhas razões nem a falta delas. Foi porque parecia certo ser, essas coisas não se explicam.
Eu poderia ter dito também o que ocorrera naquele fatídico sábado dia 12 de fevereiro, e nos dois anos que precederam essa data, e de como tudo se apagara, assim de repente, como se fosse um sonho, como se nunca tivera acontecido. Só aí talvez você viria a me diagnosticar com uma instabilidade clínica, grave, mas não intencional, e mesmo assim viria a me julgar, e a me apontar todos aqueles defeitos que tinha investigado sobre mim e que te fariam se afastar e propor a distância como a única cura para os nossos males. Eu já ouvi essa mesma história contada por outras bocas, e  você resolveu me proferir as mesmas palavras de outrem, é porque nunca conheceu o abandono, enquanto eu nunca conheci outra palavra que não o adeus. Você conhece apenas a sensação de uma longa espera, porque nunca se entregou de fato, nunca tentou. Enquanto eu, todas as vezes que tentei falhei. E rodeada por esse desespero me dilacero em praça pública esperando que os abutres venham então se servir do banquete de minha carne.
E isto, não é literatura.      

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deux ans, troix mois. Le silence assis avec moi, y Je ne me rappelle trés bien de son sourire.
Two years, three months. The silence sit with me, and I can't remember your smile very well.
Dois anos, três meses. O silêncio sentado ao meu lado, e eu não me recordo muito bem do seu sorriso. 

Da primeira vez teve de queimar todas as cartas, desta vez nem precisou se dar a esse trabalho para expulsar a lembrança: sua mente, seu corpo, já não se rendiam a tais caprichos.

Escrevia mal em várias línguas
em todas elas estão guardados seus maiores enganos.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Crônica de uma morte anunciada

"No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava um bosque de grandes figueiras onde caía uma chuva branda, e por um instante foi feliz no sonho, mas ao acordar sentiu-se completamente salpicado de cagada de pássaros. "Sempre sonhava com árvores", disse-me sua mãe 27 anos depois, evocando os pormenores daquela segunda-feira ingrata. "Na semana anterior tinha sonhado que ia sozinho em um avião aluminizado que voava sem tropeçar entre as amendoeiras", disse-me. Tinha uma reputação muito bem merecida de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que fossem contados em jejum, mas não percebera qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho; nem nos outros sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que precederam sua morte. [...]"

Gabriel García Márquez

histórias de ninguém

Todos os dias ele passava nos arredores do convento para assobiar para as freiras, as quais ficavam enrubescidas, ainda no calor de sua juventude, perdidas entre livros e preces  e com joelhos ardidos destinados a oração. E nas noites,quando não chovia, ia ao cemitério próximo a sua casa ler para os mortos, contar histórias, pois achava a eternidade demasiadamente enfadonha.

Pedido

Enche de silêncio a minha taça;
Unge-me de esquecimento.

H. Kolody

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quixote

Estava Dom Quixote
a duelar com seus moinhos,
os gigantes inimigos,
que sua própria mente criou.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Guimarães Rosa

"As coisas assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas"

Manoel de Barros

"Aqui o silêncio tem boca e as flores dão acordes de sangue."
Por hoje, se contentaria em esmagar sua dor com os pés e os punhos.
Amanhã mesmo daria ordem de prisão às suas vontades, recusando-se ao próprio livre arbítrio.
Costurou seus lábios para não proferir mais palavra alguma, como assim tinha ensinado seu mentor.
Mandou que lhe batizassem seu escudo,
foi atingida com o primeiro golpe,
a água usada era impura,
não venceria batalha nenhuma.
agora haveria de se recompor, fazer muito com o pouco que lhe deram, ou mesmo se desprender de tudo, retornar a anti-matéria.
E foi assim que descobriu, ainda que tardiamente, a sua aptidão inata de ser aquilo que ninguém, nem um homem ou mulher, soube amar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O dia abriu seu pára-sol bordado

O dia abriu seu pára-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua - a Lua! - em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranqüila de um açude...

Mario Quintana

domingo, 17 de abril de 2011

Matisse

...


Hoje de manhã uma borboleta fantasma atravessou o meu corpo.
Vi-a vindo em minha direção, cambaleando no ar - como é de costume o vôo das borboletas - até que ela me cruzou, e por um momento pensei que ela tivesse se perdido em mim.  Mas depois a vi partir, seguindo seu inveterado itinerário sinuoso.
De dia, o ônibus não parou para me deixar subir, nem os vizinhos me cumprimentaram na rua e quando fui ao supermercado as portas elétricas não se abriram para mim. E então tentei olhar pelas portas espelhadas e vi a cara de um homem segurando um guarda-chuva nas mãos, e não era eu (eu nem tinha um guarda-chuva nas mãos, por sinal, eu nem era um homem!), mas de repente vi que o homem estava de costas para mim, e de repente eu estava a dois dedos de sua nuca, até ele continuar se afastando e entrar pelas portas espelhadas do supermercado.E foi aí que eu percebi: Aquele homem tinha me atravessado.
O fantasma, era eu.

figura: Samira Abbassy

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O sol, com suas anteras de fogo
enovelado na cortina das nuvens
pregado no azul
desenhado de amarelo
disfarçado de círculo
afivelado no sistema planetário.

Obedecem suas rotas elípticas:
vênus, marte, saturno
deslocam-se na imensidão,
a carismática dança dos astros,
a jocosa arte do movimento,
a inebriante marcha cósmica

quarta-feira, 13 de abril de 2011

M. Quintana

"O espaço é cheio de buracos: nós, as coisas, os mundos. A perfeição seria o espaço puro, fica ele a pensar com os seus buracos... Mas isso, Sr.Espaço, é uma coisa tão impossível como a poesia pura."
Na avenida dos desencontros, a casa das dores é a mais visitada.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Encanto

Recorrer a quem? a Vinícius?
é porque, não estás descrita nos livros
nem cabe no interior das palavras
é porque és a chama que queima todas as coisas por onde passa
deixando tais coisas arder por vício
é porque és a fábula viva
aquela que dá as ordens, os sentidos
o encanto
As luzes dançavam pelo seu rosto, e as sombras corriam do lado oposto,
como a figura que imita os gestos no espelho, sendo outro, mas sempre o mesmo.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O lugar ideal

O lugar ideal começa ao seu lado, desliza pelo seu ante-braço e desce na palma de sua mão. O lugar ideal é como uma concha onde repouso, dentro de minha imaginação.

domingo, 10 de abril de 2011

Diário de um ínsone Cap.II

A noite dos ínsones é repleta de acontecimentos:
é ali que são colocados os primeiros tijolos do amanhã,
é ali, na porta das casas sem cercas, que os homens buscam o abrigo da chuva e do escuro,
é ali que nasce o orvalho da manhã, e que as putas batem o cartão de trabalho,
e quando não estamos olhando, de repente
os rios param.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Caminhos

E de repente tudo curvava seu rumo, eventos, improvisos, a cena que tinha sido construída para que nós encenássemos, de repente, éramos parte do cenário, e as coisas se confundiam,  se fundiam uma nas outras, e era tão claro, que parecia ter sido inventado, mas em tudo incidia um mistério, provocação provocada por nossos           caminhos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Estatuto do Homem (Ato Institucional Permanente)

Artigo I
 
   Fica decretado que agora vale a verdade,
   que agora vale a vida,
   e de mãos dadas
   trabalharemos todos pela vida verdadeira.
 
 
   Artigo II
   Fica decretado que todos os dias da semana,
   inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
   têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 
 
   Artigo III  
   Fica decretado que, a partir deste instante,
   haverá girassóis em todas as janelas,
   que os girassóis terão direito
   a abrir-se dentro da sombra;
   e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
   abertas para o verde onde cresce a esperança.
 
 
   Artigo IV
 
   Fica decretado que o homem
   não precisará nunca mais
   duvidar do homem.
   Que o homem confiará no homem
   como a palavra confia no vento,
   como o vento confia no ar,
   como o ar confia no campo azul do céu.
 
           Parágrafo único:
 
           O homem, confiará no homem
           como um menino confia em outro menino.
 
 
   Artigo V
 
   Fica decretado que os homens
   estão livres do jugo da mentira.
   Nunca mais será preciso usar
   a couraça do silêncio
   nem a armadura de palavras.
   O homem se sentará à mesa
   com seu olhar limpo
   porque a verdade passará a ser servida
   antes da sobremesa.
 
 
   Artigo VI
 
   Fica estabelecida, durante dez séculos,
   a prática sonhada pelo profeta Isaías,
   e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
   e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
 
 
   Artigo VII
   Por decreto irrevogável fica estabelecido
   o reinado permanente da justiça e da claridade,
   e a alegria será uma bandeira generosa
   para sempre desfraldada na alma do povo.
 
 
   Artigo VIII
 
   Fica decretado que a maior dor
   sempre foi e será sempre
   não poder dar-se amor a quem se ama
   e saber que é a água
   que dá à planta o milagre da flor.
 
 
   Artigo IX
   Fica permitido que o pão de cada dia
   tenha no homem o sinal de seu amor,
   Mas que sobretudo tenha sempre
   o quente sabor da ternura.
 
 
   Artigo X
   Fica permitido a qualquer pessoa,
   qualquer hora da vida,
   o uso do traje branco.
 
 
   Artigo XI
 
   Fica decretado, por definição,
   que o homem é um animal que ama
   e que por isso é belo,
   muito mais belo que a estrela da manhã.
 
 
   Artigo XII
 
   Decreta-se que nada será obrigado nem proibido,
   tudo será permitido,
   inclusive brincar com os rinocerontes
   e caminhar pelas tardes
   com uma imensa begônia na lapela.
 
           Parágrafo único:
 
           Só uma coisa fica proibida:
           amar sem amor.
 
 
   Artigo XIII
 
   Fica decretado que o dinheiro
   não poderá nunca mais comprar
   o sol das manhãs vindouras.
   Expulso do grande baú do medo,
   o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
   para defender o direito de cantar
   e a festa do dia que chegou.
 
 
   Artigo Final.
 
   Fica proibido o uso da palavra liberdade,
   a qual será suprimida dos dicionários
   e do pântano enganoso das bocas.
   A partir deste instante
   a liberdade será algo vivo e transparente
   como um fogo ou um rio,
   ou como a semente do trigo,
   e a sua morada será sempre
   o coração do homem.

Thiago de Mello

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Saramago

"Uma pena. Somos, cada vez mais, os defeitos que temos, não as qualidades"

O Jogo da Amarelinha, Cap.104

"A vida como um comentário de outra coisa que não alcançamos, e que está aí ao alcance do salto que não demos. [...]"

terça-feira, 5 de abril de 2011

Clarice L.

"Quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo"
A alguns anos atrás, um homem que julgava compreender as asperezas do mundo  havia me dado um conselho, ele disse: “É bom não colocar o coração nas coisas que quebram ou que a traça rói” e imediatamente  passei a imaginar um universo inteiro feito de vidro e papelão ,e em seguida irremediavelmente eu comecei a ver traças em meu caderno, nas minhas roupas, nos armários da cozinha, atrás dos móveis, e espalhadas por toda casa, e ainda traças atravessando a rua, dirigindo carros, hasteando bandeiras, devorando postes e árvores,  vi duas traças enormes roendo as paredes tortas da torre de Pisa, o colorido dos vitrais da Catedral de Notre Dame (aqueles laboriosamente descritos por Vitor Hugo), as formas sinuosas das construções do Gaudí, e também, traças viajando para a lua e apagando todas as estrelas, e só não as via devorando o escuro porque não se sabia o que aconteceria depois. Ademais, o escuro não caberia num estômago de traça, sei por que conheço seu sistema digestório, suas mandíbulas, seu abdômen repleto de segmentos, suas antenas multiarticuladas, e atrás, mais outras três antenas denominadas cercos. E então me lembrei das múmias dos faraós do Egito, dos astecas, aquelas que remontam quase 3mil anos atrás, confortavelmente recostadas em seus sarcófagos, em suas tumbas, provavelmente orgulhosas por terem driblado o apetite das traças, pois desde lá já havia essa preocupação no homem, de desaparecer, e me perguntei se era isso que aquele homem queria me dizer, se eu deveria então me revestir de um linho, me trancar em um quarto escuro e me esconder do destino fatal que é partir. Mas não era isso que eu queria para mim, eu queria somar em todas as coisas, mesmo que fosse para revestir o estômago faminto de uma traça, se é mesmo verdade que ao pó retornaremos, pois então que eu me perca no vento, e acabe repousando em uma sacada onde uma dona de casa irá me varrer para fora  até eu encontrar o caminho das pedras e algo brotar em mim. Sorte nossa que as traças ainda não resolveram dominar o mundo, porque eu havia criado uma imagem apocalíptica na minha cabeça, toda ela encenada por traças e faraós, e era uma visão horrível, mas foi aí que eu decidi que já não me importava mesmo que as traças me devorassem inteirinha, já haviam levado meu coração a muito tempo...uma vez tentaram levar meus olhos, não conseguiram, levaram somente as minhas pálpebras,  a conseqüência, o resultado, é o que digo.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

arsis/thesis

Gostar de você é tempestade, é despencar de um longo precipício onde não se sabe, se algodão ou espinho. Gostar de você é como a trajetória de uma balança, arsis/thesis, elevação/deposição,proximidade/distância, sempre esse movimento - antídoto/veneno - como um passo de dança...

domingo, 3 de abril de 2011


E foi como se lhe destacassem os olhos da cara e em seu lugar lhe pregassem dois botões, descosturassem sua pele e tirassem seu recheio - Esfacelado, despedaçado, fragmentado, estilhaçado, dilacerado - Ainda que lhe emprestassem uma boa aparência, e que a forma tornasse a lembrar o que fora um dia, qualquer um podia dizer que ali havia a falta de algo, algo tão circunstancial, tão extraordinário, tão singular como é uma entrega ou uma recusa.  Algo que nos foge ao controle. Mas não, isso não era lhe devolver um pouco de vida, isso era uma imitação barata e ridícula, um monstro, uma fraude, a pior, a mais perversa mentira - A pele, o pêlo, o osso, a veia, a fibra metamorfoseada em sangue, vermelho que destoa, e ao final encerra em uma colcha feita de um mórbido retalho e... - E então você percebe, você sabe, você sente o quanto é incabível, inadequada, absurda a idéia do amor.  Por que quando se conhece um tipo de maldade que aprisiona o belo, que se apropria do íntegro,  e cava, cava, até encontrar o nada, até restar apenas lixo: isso nos mutila, nos faz perder o chão.
 Mas não é assim, não se tira a cara como se tira um capuz da cabeça, a pele como a uma roupa.  A gente não se despede da carne, não sem dizer adeus.

Figura: Francis Bacon

Manoel de Barros

O pássaro (olhos enraizados de sol):
Ainda que seu corpo permanecesse ardendo, o amor o destruiria.