segunda-feira, 1 de abril de 2013

"Se tivesses a dura e adocicada comunhão com as coisas, talvez sim tu serias mais bela porque o rosto adquire refulgências se dor ou maravilha e matéria de tudo o que te rodeia te penetra, e ao invés de gastares teu ouro no apagar de umas linhas finas e de sulcos, tu te tocarias amante mansa, sabendo que o vestígio de todas as solidões se faz presença no teu rosto, que o sofrido da água é cicatriz agora ao redor da tua boca, que tomaste para a tua fronte a linha funda da pedra, Ruteidade de Rute, se te conhecesses como Tadeu desejaria, se deixasses que o Tempo fizesse a sua casa no teu centro, se a nossa casa tivesse sido a vida de nossas próprias almas [...] E ao contrário, me fiz num caminhar insano e fui atrás dos teus murmúrios ocos."

"Tu não te moves de tí" - Hilda Hilst