sexta-feira, 31 de agosto de 2012
Cartas
"[...] Mas tenho como nítido que apesar de todas as mudanças eminentes somos as mesmas, e nos conhecemos, e nos queremos bem; como se não houvesse passado inverno algum. [...]"
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
"Só rimo com o sobrenome dela"
Ela disse ter me curado, quiçá fosse mesmo...ou quase isso. De resto, devo me portar para merecê-la. Todos os dias.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
"Se ao menos dessa revolta, dessa angústia saísse alguma coisa que prestasse."
Tive vontade de reler Caio Fernando - acontece que a gente nunca se livra da literatura, por mais que queira - mas Caio Fernando pra mim já era ultrapassado, infantil, quiçá ,talvez, não soubesse mais entendê-lo, quiçá não quisesse compreender mesmo. Mudavam minhas perspectivas e o mundo me parecia mais simples embora eu nunca deixasse de ser aquela confusão. Pensava em Leminski: "Para cada bicho de sete-cabeças, há sete sem nenhuma." pensava em dizeres pequenos, mantras, como diziamos, para sustentar-me e não grandes vãs filosofias. Com Manoel comia o ínfimo com farinha, cultivava pequenos jardins que já não sabia mais no que iam dar...pensava em se entregar como se não houvesse modo de perder-me. Já havia me perdido, sempre me perdia. Recostava a cabeça no travesseiro, parecia pesado demais, difícil demais, e sua maior ambição era ser leve! (Como nunca tinha sido). Talvez a lithost a tivesse devorado, talvez só conseguisse viver sobre um regime de insustentável,mas necessária leveza. E relembro então Caio Fernando: "Talvez tudo, talvez nada." . E sei que nem tudo é sobre mim, mas ainda erro os pronomes.
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
sábado, 18 de agosto de 2012
Margaridas
Prometeu-me margaridas, e depois, rogou-me proteção. Traria um vaso: - não que eu soubesse lidar, também, com elas - fez-me o tipo de promessa que se faz recente, com uma descoberta, uma epifania. Não sabia dizer-lhe se quando expostos ou escondidos, os medos e os segredos tinham mais força, mas estava disposta (envolvida, talvez, por uma loucura lúcida) a aceitar a proposta. E não importava o quanto durasse, pois havia, por fim, decidido a lançar-me...como se não houvesse modo de perder-me.
Quem nunca optou pelo definido que atire a primeira pedra.
"[...] A algum tempo lhe ocorria o mesmo, mas agora era uma distração diferente, porque seu pensamento estava embaçado por uma inquietação definida. [...]"
Funerais de Mamãe Grande - Gabriel García Márquez
Funerais de Mamãe Grande - Gabriel García Márquez
terça-feira, 14 de agosto de 2012
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
Sobre canecas e chás - Léo Fressato
Eu não vim falar de amor,
Nem dizer que o destino foi quem nos juntou...
Eu não prometi cuidar e nem prometo agora,
Embora eu vá olhar com ternura pras tuas crias e pra caneca com chá...
Não peço pra namorar...
Você riria.
E eu morreria...
Sem ar.
Eu não vim pedir amor,
Nem me dei por vencido...
Cê sabe como é,
Sou teimoso de dar dó!
Só vim para dizer: no meu sertão não será sol...
Só vim para dizer: no meu sertão não será sol...
E vai chover...
E vai chover...
Sabe,
O meu amor é teu...
Não sei o que aconteceu,
Nem sei no que vai dar...
Sabe,
Só quero um beijo teu...
E que não diga adeus,
Para que eu possa voltar...
E eu voltarei!
Margaridas na mão, venho armado até os dentes!
Pra roubar teu coração
E colocá-lo rente ao meu...
Sabe,
Antes de terminar,
Minha moça, eu te digo:
Você vai ser feliz comigo...
Mesmo se o mundo acabar...
Mesmo se o avião cair...
Mesmo se a chuva alagar aqui...
Mesmo se a gente afogar...
E eu não vim falar de amor,
Nem dizer que o destino foi quem nos juntou...
Eu não prometi cuidar e nem prometo agora,
Embora eu vá olhar com ternura pras tuas crias e pra caneca com chá...
Não peço pra namorar...
Você riria.
E eu morreria...
Nem dizer que o destino foi quem nos juntou...
Eu não prometi cuidar e nem prometo agora,
Embora eu vá olhar com ternura pras tuas crias e pra caneca com chá...
Não peço pra namorar...
Você riria.
E eu morreria...
Sem ar.
Eu não vim pedir amor,
Nem me dei por vencido...
Cê sabe como é,
Sou teimoso de dar dó!
Só vim para dizer: no meu sertão não será sol...
Só vim para dizer: no meu sertão não será sol...
E vai chover...
E vai chover...
Sabe,
O meu amor é teu...
Não sei o que aconteceu,
Nem sei no que vai dar...
Sabe,
Só quero um beijo teu...
E que não diga adeus,
Para que eu possa voltar...
E eu voltarei!
Margaridas na mão, venho armado até os dentes!
Pra roubar teu coração
E colocá-lo rente ao meu...
Sabe,
Antes de terminar,
Minha moça, eu te digo:
Você vai ser feliz comigo...
Mesmo se o mundo acabar...
Mesmo se o avião cair...
Mesmo se a chuva alagar aqui...
Mesmo se a gente afogar...
E eu não vim falar de amor,
Nem dizer que o destino foi quem nos juntou...
Eu não prometi cuidar e nem prometo agora,
Embora eu vá olhar com ternura pras tuas crias e pra caneca com chá...
Não peço pra namorar...
Você riria.
E eu morreria...
terça-feira, 7 de agosto de 2012
"[...; No fim tudo será silêncio
"[...]No fim tudo será silêncio,
salvo onde o mar banhar nada."
Ricardo Reis - Fernando Pessoa
salvo onde o mar banhar nada."
Ricardo Reis - Fernando Pessoa
Perecíveis
Logo tudo iria desaparecer, afinal de contas, as coisas têm em sua natureza íntima a idéia última, ou o princípio fundamental, de saber-se estar só de passagem.
Já dizia o Fernando Pessoa...
"Arranco do pescoço uma mão que me sufoca. Vejo que na mão, com que a essa arranquei, me veio preso um laço que me caiu no pescoço com o gesto de libertação. Afasto, com cuidado, o laço, e é com as próprias mãos que quase me estrangulo."
domingo, 5 de agosto de 2012
Notas Para um livro bonito
algumas mulheres
quando as escavamos
não encontramos aqueles
típicos monstros de ventosas
mas odores de licor e pororoca
afrescos desenhados com o hálito
e o ferrão das lágrimas.
algumas mulheres mordemos
depois costuramos com relâmpagos.[...]
Luiz Felipe Leprevost
quando as escavamos
não encontramos aqueles
típicos monstros de ventosas
mas odores de licor e pororoca
afrescos desenhados com o hálito
e o ferrão das lágrimas.
algumas mulheres mordemos
depois costuramos com relâmpagos.[...]
Luiz Felipe Leprevost
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Dedicatória
Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são
hoje ossos, ai de nós. Dedico-me à cor rubra muito escarlate como o meu sangue
de homem em plena idade e portanto dedico-me a meu sangue. Dedico-me sobretudo
aos gnomos, anões, sílfides e ninfas que me habitam a vida. Dedico-me à saudade
de minha antiga pobreza, quando tudo era mais sóbrio e digno e eu nunca havia
comido lagosta. Dedico-me à tempestade de Beethoven. à vibração das cores
neutras de Bach. A Chopin que me amolece os ossos. A Stravinsky que me espantou
e com quem voei em fogo. A «Morte e Transfiguração», em que Richard Strauss me
revela um destino? Sobretudo dedico-me às vésperas de hoje a hoje, ao
transparente véu de Debussy, a Marlos Nobre, a Prokofiev, a Carl Orff, a
Schönberg, aos dodecafónicos, aos gritos rascantes dos electrónicos a todos
esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas, todos esses
profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu neste
instante explodir em: eu.[...]
Dedicatória do livro "A hora da estrela" de Clarice Lispector
(Lídia)sendo este amor, fugídio, como posso te prender em
mim? Se não aprendemos destas artes de amar? se não nos encontramos senão
deixando marcas de um algo desconhecido, que não nos diz, e que nos embriaga
com seu mistério, e que nos esmaga? Mas
Lídia, como posso te deixar partir? Se é da mesma a fonte que bebo, o doce e o
amargo, o antídoto e o veneno?
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Pedido quase uma prece
Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal -
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas
como a roupa dos pescadores.
Com janelas de aurora e árvores no quintal -
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas
como a roupa dos pescadores.
O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade, Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.
Em verdade, Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.
Sem nome, porém honrada, Senhor.
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir
os ventos pelos caminhos, e ver o sol
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir
os ventos pelos caminhos, e ver o sol
Dourando os cabelos negros
e os olhos de minha amada.
e os olhos de minha amada.
Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ele é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e bastante constrangido,
Que sem ela a casa também eu não queria,
e voltava pra pensão.
Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos
E a dona é sempre uma senhora
do interior que tem uma filha alegre.
Eu adoro menina alegre,
e daí podeis muito bem deduzir
Que para elas eu corro nas minhas horas de
aflição.
Nas minhas solidões de amor e
nas minhas solidões do pecado
Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis
Como amarga a vida de um homem o carinho das prostitutas!
nas minhas solidões do pecado
Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis
Como amarga a vida de um homem o carinho das prostitutas!
Vós sabeis como tudo amarga
naquelas vestes amassadas
Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas
Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti
Que eu continue sonhando com a minha casinha azul.
Permiti que eu sonhe com
a minha amada também, porque:
- De que me vale ter casa sem ter
mulher amada dentro?
Permiti que eu sonhe com uma que ame
andar sobre os montes descalça
E quando me vier beijar faça-o
como se vê nos cinemas...
O ideal seria uma que amasse fazer comparações
de nuvens com vestidos, e peixes com avião;
Que gostasse de passarinho pequeno,
gostasse de escorregar no corrimão da escada
E na sombra das tardes viesse pousar
Como a brisa nas varandas abertas...
O ideal seria uma menina boba:
que gostasse de ver folha cair de tarde...
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas ...
O ideal seria uma criança sem dono,
que aparecesse como nuvem,
Que não tivesse destino nem nome -
senão que um sorriso triste
E que nesse sorriso estivessem encerrados
Toda a timidez e todo o espanto
das crianças que não têm rumo...
.............................................................................
Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
Com janelas de aurora e árvores no quintal -
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
E ao crepúsculo fiquem cinzentas
como a roupa dos pescadores...
Manoel de Barros
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