segunda-feira, 31 de março de 2014

"O mundo
Não é injusto, mas também não é teu mordomo;
Avança e é só."

Gonçalo Tavares

quinta-feira, 27 de março de 2014

"(...)
Porque ai senhor
a vida é pouca:
Um bater de asa no caminho
Da minha à vossa
Casa...

E depois, nada."

Hilda Hilst - "Trovas de muito amor para um amado senhor (1960) "
"(...)
E foi assim que o poeta
Assombrado com as ausências
Resolveu:
Fazer parte da paisagem
E repensar as convivências.
Em vão tenho procurado
A glória das descobertas.
Em vão a língua se move
Trazendo à tona o segredo.
Em vão nos locomovemos.
Para onde os pés e braços?
Até quando essas andanças
E até quando este passo?

(...)"

Hilda Hilst - "É tempo de para as confidências" - Cinco Elegias
"Enterrei à noite minhas estrelas
Porque à noite as flores
Elaboram em silêncio
Suas cores.
Enterrei de noite minhas estrelas
Perdi graças e gigantes
Para não perdê-las. (...)"

Hilda Hilst

quarta-feira, 26 de março de 2014

Obscurecida por pássaros e borboletas , Christian Schloe



Roteiro do silêncio (1959)

"Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.
Nas prisões e nos conventos
Nas igrejas e na noite
Não há silêncio bastante
Para o meu silêncio.

Os amantes no quarto.
Os ratos no muro.
A menina
Nos longos corredores do colègio.
Todos os cães perdidos
Pelos quais tenho sofrido:
O meu silêncio é maior
Que toda solidão
E que todo silêncio."

Hilda Hilst
Nem cafuné, nem chuva.

domingo, 23 de março de 2014

sábado, 22 de março de 2014

        " Peguei no meu coração
          E pu-lo na minha mão
    Olhei-o como quem olha
    Grãos de areia ou uma folha.

    Olhei-o pávido e absorto
    Como quem sabe estar morto;

    Com a alma só comovida
    Do sonho e pouco da vida."
     
    Fernando Pessoa

Que gesto pertence à tua mão?

Que gesto pertence à tua mão?
 de demora, de queixa,
de doçura, de ambição?
É de gestos que te fazes
e do teu jeito assim
te fazes
se prestares atenção
ou se assim deixares,
a queixa, a doçura, a ambição
e até a amargura:
Eles te farão.
"Orfeu apodrece
Luminoso de asas e de vermes" 
Hilda Hilst

Orfeu apodrece,
já não ama
Já não ama Eurídice
e esta dama,
já não lembra seu nome
pois bebe do lethes
e esta água
apaga a chama,
e seu próprio nome,
Eurídice.
Orfeu apodrece,
E a lira que tange
já não canta
E a lira que rasga
belas melodias
Está calada
impossível de amor
Impossível de amor orfeu
se cala
e concluí:
o amor
a lira
o tempo
e o próprio orfeu,

apodrecem.

"As palavras engenhosas
E os teus dizeres do dia
à noite não tem sentido"

Hilda Hilst

sexta-feira, 21 de março de 2014

"E se demoras muito, uns imensos destinos
Distanciam de ti esse todo amoldável que se faz em mim"

Hilda Hilst
"Ser nova e derradeira,
recompondo
Madrugada e manhã no teu instante"

Hilda Hilst <3
"Os castelos lendários são paisagens
Onde os homens se aquecem. Sós."

Reiner Maria Rilke

(anotações obscuro-luminosas sobre a resiliência)

Gosto do pescoço dele,
Como se pudesse suportar
longas cordas e estrangulamentos.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Inimaginável -Troy Rossilho

"Um dia eu vou me perder
Eu vou entrar fundo
Eu vou atravessar a fronteira
Mais escura do mundo

Um abismo nublado
Pode estar tramando algo
Inimaginável
Inimaginável

Eu vou fazer turismo
Dentro do próprio organismo
Eu vou me aventurar no meu centro
Não posso fugir de mim se só tenho saídas pra dentro
 Eu vou me aventurar no meu centro
Não posso fugir de mim se só tenho saídas pra dentro

Um dia eu vou me perder
Eu vou entrar fundo
Eu vou atravessar a fronteira
Mais escura do mundo

Um abismo nublado
Pode estar tramando algo
Inimaginável
Inimaginável

Eu vou fazer turismo
Dentro do próprio organismo
Eu vou me aventurar no meu centro
Não posso fugir de mim se só tenho saídas pra dentro
Eu vou me aventurar no meu centro
Não posso fugir de mim se só tenho saídas pra dentro"
Distraídos venceremos! Bem dizia Leminski

domingo, 16 de março de 2014

recortes do caderninho...

Aonde fui me perder nos mapas
Pra te achar tão perto dos meus sonhos?
Jaya Jaya Sujaya
Para que o dia termine bonito.

Jaya Jaya Sujaya
Para que o dia morra aberto para mim.

Jaya Jaya Sujaya
Porque um dia é uma vida
Todos os dias são um só dia
Todas as vidas, uma só vida.

"Não seja o dançante, seja a própria dança",ela me disse.
"Não é este teu canto porque as palavras se abriram sobre a mesa.
Se chegavas era em silêncio e tocava as coisas
Com a leveza dos meninos arrumando os altares."

Hilda Hilst
"Morremos sempre.
O que nos mata
São as coisas renascendo."

Hilda Hilst

Cantiga

E hoje que é domingo
eu nem fui dançar com ela
bem eu que queria muito
mas ainda me impede o mundo
o mundo e eu mais que o mundo
queria estar perto dela
eu, muito mais que o mundo
queria estar perto dela

Licença que eu vou rodar, no carrossel do Destino

"Deixo este mundo daqui,
Selva com lei de cassino;
Vou renascer num menino,
Num país além do mar...
Licença, que eu vou rodar
No carrossel do destino."


Antônio Nóbrega

terça-feira, 11 de março de 2014

Ondas que vem e vão
que remetem às bases de meus andaimes estruturais
(qualquer coisa sobre mim
que retenho, que penso carregar
comigo eternidades)
O dela vejo,
o santo sepulcro
Em mim o vazio do extremo limite.
E assim me componho
flores e lápides
agradecendo à cada uma
flor, e lápide.
Sem agradecer
porque não ressoa.
(o oco não ressoa).

Sem chance de ajuda


"há um lugar no coração que
nunca será preenchido

um espaço

e mesmo nos
melhores momentos
e
nos melhores
tempos

nós saberemos

nós saberemos
mais que
nunca

há um lugar no coração que
nunca será preenchido
e
nós iremos esperar
e
esperar

nesse
lugar."

C. Bucowski
"Haja hoje para tanto ontem"

Paulo Leminski
"-Deus escreve certo por linhas tortas.
Rodrigo abriu a boca num bocejo cantado e depois disse:
- Mas o diabo é que ninguém sabe ler o que Ele escreve."

Um certo Capitão Rodrigo -  Érico Veríssimo

domingo, 9 de março de 2014

Hoje a impermanência me toca fundo. Me rasga em carne viva.
-Peço vitalidade, e compreensão (fala aquela que esteve à beira da morte)

Sozinha, Vazia, Vencida.
É tudo fragilidade.
Todos esses pensamentos eu não procuro evitar.
Quando à beira da morte
à beira de qualquer morte.
Sozinha, Vazia, Vencida.

quarta-feira, 5 de março de 2014

São Jorge



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Guerreio é no lombo do meu cavalo
Bala vem mas eu não caio
Armadura é proteção

Avanço sob a noite iluminado
Luto sem pestanejar
Derrubo sem me esforçar, a guarnição
 
A guimba e a fumaça do meu cigarro
Cega o olho do soldado que pensou em me ferir
Com sorriso , derrubo uma  tropa inteira
Mesmo que na dianteira sombra venha me seguir

O gole da cachaça, esguicho no ar
Chorando na labuta ouço a corrente se quebrar
 
E o golpe do destino?
Esse eu sinto mas não caio
Guerreio, é no lombo do meu cavalo"

into the void