sexta-feira, 3 de junho de 2011

Do olhar místico

Ainda descomposta pela modorra causada pela insônia do dia anterior, ela aguardava pela sentença que seria anunciada agora por uma cigana que a lia em uma borra de café:
"Nada mal, nada mal...", ela disse:
- Finalmente você vai encontrar algo que sempre procurou mas que nunca soube o que era.
Com seu gênio um tanto inconformado e irritadiço ela respondeu:
-E a senhora pode me dizer como é que eu procurei por toda a minha vida algo de que nem sei?
Ela então sorriu largamente:
- É disso mesmo que eu estou falando!
Anos atrás tinha ouvido esta mesma prescrição de um velho curandeiro que cuidava da febre das moças e das más aparições:
"Não acredito em bulhufas!", exclamou sem piedade.
"Você pode não acreditar", ele disse, " mas é melhor prevenir" e assim lhe entregou um colar feito de cascas de sementes colhidas da serrapilheira em uma noite de lua cheia  que tirou do próprio pescoço. 
E o perfume da madeira foi se espalhando pela sua pele, adentrando por sua nuca até visitar seus fios de cabelo, castanhos , cor da terra, como eram também as sementes.