domingo, 29 de dezembro de 2013
sábado, 28 de dezembro de 2013
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Eu não tenho culpa de até,
respirar diferente
representação minimalista
mas tu se faz grandiosa em meu corpo
taí o desassossego
eu aqui desmoronando de segredos que só a ti
pretendia contar
esclarecimentos, minha fala grossa
Tua voz
Epígrafes, desenhos à mão
tua letra de caderno
Tua existência toda,
tem data na minha memória
única que pretendo manter
do resto me retiro
De outra água não bebo
só da tua delicada fonte.
Teu charme
de xale
e gato
no colo
Teus biscoitos de nomes esquisitos
uma cena muda, por completo, meu dialeto
meu signo
Tua assinatura
gasta em mim.
Tuas máscaras trazidas de veneza
Teu precioso terço
Teus potes de balas e doces
(únicos enfeites de cozinha após a mudança)
Tua pressa colada na minha
Tua cabeça inesperada em meu ombro
Teus olhos (sempre teus olhos)
que reconhecí - e reconheceria-
em meio à multidão
Representação minimalista
Teu jeito de sonho
Teu sono de 10 horas
O endereço de tua casa
por onde gritei teu nome nas esquinas
Representação minimalista:
Teus sapatos vermelhos
Teus quadros
Você.
respirar diferente
representação minimalista
mas tu se faz grandiosa em meu corpo
taí o desassossego
eu aqui desmoronando de segredos que só a ti
pretendia contar
esclarecimentos, minha fala grossa
Tua voz
Epígrafes, desenhos à mão
tua letra de caderno
Tua existência toda,
tem data na minha memória
única que pretendo manter
do resto me retiro
De outra água não bebo
só da tua delicada fonte.
Teu charme
de xale
e gato
no colo
Teus biscoitos de nomes esquisitos
uma cena muda, por completo, meu dialeto
meu signo
Tua assinatura
gasta em mim.
Tuas máscaras trazidas de veneza
Teu precioso terço
Teus potes de balas e doces
(únicos enfeites de cozinha após a mudança)
Tua pressa colada na minha
Tua cabeça inesperada em meu ombro
Teus olhos (sempre teus olhos)
que reconhecí - e reconheceria-
em meio à multidão
Representação minimalista
Teu jeito de sonho
Teu sono de 10 horas
O endereço de tua casa
por onde gritei teu nome nas esquinas
Representação minimalista:
Teus sapatos vermelhos
Teus quadros
Você.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Memória
"O melhor do amor é sua memória. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória imperecível."
Adélia Prado
O A Bao A Qu
"Para contemplar a paisagem mais maravilhosa do mundo é preciso chegar ao último andar da Torre da Vitória, em Chitor. Existe ali um terraço circular que permite dominar o horizonte inteiro. Uma escada em caracol leva ao terraço, mas só tem a coragem de subir os que não acreditam na fábula, que diz o seguinte.
Na escada da Torre da Vitória vive desde o início do tempo o A Bao A Qu, sensível aos valores da almas humanas. Vive em estado letárgico, no primeiro degrau, e só desfruta da vida consciente quando alguém sobe a escada. A vibração da pessoa que se aproxima lhe incute vida, e uma luz interior se insinua nele. Ao mesmo tempo, seu corpo e sua pele quase translúcida começam a mover-se. Quando alguém sobe a escada, o A Bao A Qu se posiciona quase nos calcanhares do visitante e sobe pendurando-se à borda dos degraus curvos e gastos pelos pés de gerações de peregrinos. A cada degrau sua cor se intensifica, sua forma se aperfeiçoa e a luz ele irradia é cada vez mais brilhante. Comprova sua sensibilidade o fato de que ele só atinge sua forma perfeita no último degrau, quando aquele que sobe é um ser evoluído espiritualmente. Se não for, o A Bao A Qu fica como que paralisado antes de chegar, seu corpo incompleto, sua cor indefinida e a luz vacilante. O A Bao A Qu sofre quando não consegue transformar-se totalmente, e sua queixa é um rumor que mal se percebe, semelhante ao roçagar da seda. Mas quando o homem ou a mulher que o fazem reviver estão cheios de pureza, o A Bao A Qu pode chegar até o último degrau já completamente formado e irradiando uma viva luz azul. Seu retorno à vida é muito breve, pois quando o peregrino desce, o A Bao A Qu rola e cai até o degrau inicial, onde, já apagado e semelhante a uma lâmina de contornos vagos, espera o próximo visitante. Só é possível vê-lo bem quando chega à metade da escada, onde os prolongamentos de seu corpo, que, à maneira de bracinhos, ajudam-no a subir, definem-se com clareza. Há quem diga que ele olha com o corpo inteiro e quando tocado lembra a casca do pêssego. No decorrer dos séculos, o A Bao A Qu chegou uma única vez à perfeição.
O capitão Burton registra a lenda do A Bao A Qu em uma das notas de sua versão de As mil e umas noites."
O livro dos seres imaginários - Jorge Luis Borges
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
As cidades e a memória 4 (Zora)
"Depois de passar seis rios e três cadeias de montanhas surge Zora,
cidade que quem a viu uma vez nunca mais pode esquecer.Mas não pode ela
deixar como outras cidades memoráveis uma imagem fora do comum nas
recordações. Zora tem a propriedade de ficar na memória ponto por ponto,
na sucessão das ruas, e das casas ao longo das ruas, e das portas e das
janelas das casas, embora não apresentando nelas belezas ou raridades
particulares. O seu segredo é o modo como a vista percorre figuras que
se sucedem como numa partitura musical em que não se pode mudar ou
deslocar nenhuma nota. O homem que sabe de cor como é Zora, nas noites
em que não consegue dormir imagina que anda pelas ruas e recorda a ordem
em que se sucedem o relógio de cobre, o toldo à riscas do barbeiro, o
repucho dos nove esguichos, a torre de vidro do astrónomo, o quiosque do
vendedor de melancias, a estátua do eremita e do leão, o banho turco, o
café da esquina, a travessa que dá para o porto. Esta cidade que nunca
se apaga da mente é como uma armação ou um retículado em cujas casas
cada um pode dispor as coisas como lhe aprouver recordar: nomes de
homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais,
datas de batalhas, constelações, partes de um discurso. Entre todas as
noções e todos os pontos do itinerário poderá estabelecer um nexo de
afinidades ou de contrastes que sirva de mnemónica, de referência
instantânea para a sua memória. E assim é de maneira tal que os homens
mais sábios do mundo são os que conhecem Zora de cor. Mas foi
inutilmente que parti em viagem para visitar a cidade: obrigada a
permanecer imóvel e igual a si própria para melhor ser recordada, Zora
estagnou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a."
"Cidades Invisíveis" - Ítalo Calvino
Imagem: Pedro Cano
As cidades e a memória 1 (Isidora)
"O homem
que cavalga longamente por terrenos selváticos sente o desejo de uma
cidade. Finalmente, chega a Isidora, cidade onde os palácios têm escadas
em caracol incrustadas de caracóis marinhos, onde se fabricam à
perfeição binóculos e violinos, onde quando um estrangeiro está incerto
entre duas mulheres sempre encontra uma terceira, onde as brigas de galo
se degeneram em lutas sanguinosas entre os apostadores. Ele pensava em
todas essas coisas quando desejava uma cidade. Isidora, portanto, é a
cidade de seus sonhos, com uma diferença. A cidade sonhada o possuía
jovem; em Isidora, chega em idade avançada. Na praça, há o murinho dos
velhos que veem a juventude passar; ele está sentado ao lado deles. Os
desejos agora são recordações."
Imagem: Pedro Cano
"Cidades Invisíveis" - ítalo Calvino
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
Ser ou não ser
é tarefa de mim mesma, e ninguém mais
(fazer nascer o sol não é tarefa de uma mulher só)
Quebrar copos
Cortar os cabelos
Não me fale em dores nem desejos
Me fale das mesas de carteado onde nunca apostei
20 mil reais
Me fale do homem de bons olhos e barba mal feita que ligou pra puta
do lado do terminal.
Ser ou não ser
é tarefa minha e de mais ninguém.
Eles que cuidem dos seus.
Dos meus, eu cuido. Eu.
é tarefa de mim mesma, e ninguém mais
(fazer nascer o sol não é tarefa de uma mulher só)
Quebrar copos
Cortar os cabelos
Não me fale em dores nem desejos
Me fale das mesas de carteado onde nunca apostei
20 mil reais
Me fale do homem de bons olhos e barba mal feita que ligou pra puta
do lado do terminal.
Ser ou não ser
é tarefa minha e de mais ninguém.
Eles que cuidem dos seus.
Dos meus, eu cuido. Eu.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
domingo, 22 de dezembro de 2013
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
soneto
"Pergunto aqui se sou louca
Quem quem saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
Quem é a loura donzela
Que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?"
Ana Cristina Cesar - Poética
Quem quem saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
Quem é a loura donzela
Que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?"
Ana Cristina Cesar - Poética
fagulha - Ana Cristina Cesar
"Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir,chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar
coração ante coração,
inteiriça.
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal."
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir,chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar
coração ante coração,
inteiriça.
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
saber ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal."
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
lex talionis
Olhos nos olhos
Dentes nos dentes
Boca na boca
e ficamos assim:
Olho por olho,
Dente por dente.
Dentes nos dentes
Boca na boca
e ficamos assim:
Olho por olho,
Dente por dente.
Nota:
A palavra "paz" em japonês é uma adaga - pode conferir - uma adaga com duas gotinhas de sangue.
domingo, 15 de dezembro de 2013
Lembro bem dela debruçada sobre o balcão dizendo que amava rosas champagne, que eram as suas preferidas, e eu , embevecida daquela substância que existe sempre que estou com ela lhe perguntei: "As preferidas na categoria rosa, ou na categoria flor?" ela me olhou e então disse que era na categoria "rosa"; aproveitou para me dizer que aquela era a floricultura onde sua mãe sempre ia comprar flores, porque moravam ali perto. Coincidentemente, a floricultura ficava bem atrás do prédio onde viria morar, uns dois anos depois.
sábado, 14 de dezembro de 2013
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
O pássaro azul
"Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
eu digo, fica aí dentro, não vou deixar
ninguém
te ver.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky nele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os garçons dos bares
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele está
ali.
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito duro com ele,
eu digo,
fica quietinho, você quer
me confundir?
quer estragar o
meu trabalho?
quer arruinar as minhas vendas de livros
na Europa?
Há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou muito esperto, só o deixo sair
às vezes à noite
quando todos estão dormindo.
eu digo, eu sei que você está aí,
então não fique
triste.
Depois coloco-o de volta,
mas ele canta baixinho
aqui dentro, não o deixo morrer
completamente
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é agradável o suficiente
para fazer um homem
chorar, mas eu
não choro,
e você?"
Charles Bukowski
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
A fumaça azul-esbranquiçada faz rabiscos abstratos no ar.
São doces redemoinhos.
Meus dedos se queimam
e o papel se contrai.
O meu corpo todo se deleita no "prazer perfeito"
(Discordo da definição, mas ainda assim, Oscar Wilde)
Ouço "Take Five", - quase um mantra, penso.
Não esquento lugar onde há paz,
brigo até mesmo com os deuses,nos sonhos.
Penso "Dave Brubeck sabia mesmo o que estava fazendo,
não é um charlatão como eu , ou como muitos."
Ainda assim sei que há poucos gênios,por isso não me culpo,
hoje eu aceito quem eu sou, e celebro a mim mesmo.
Aprendi com o mestre, aprendi com Whitman.
São doces redemoinhos.
Meus dedos se queimam
e o papel se contrai.
O meu corpo todo se deleita no "prazer perfeito"
(Discordo da definição, mas ainda assim, Oscar Wilde)
Ouço "Take Five", - quase um mantra, penso.
Não esquento lugar onde há paz,
brigo até mesmo com os deuses,nos sonhos.
Penso "Dave Brubeck sabia mesmo o que estava fazendo,
não é um charlatão como eu , ou como muitos."
Ainda assim sei que há poucos gênios,por isso não me culpo,
hoje eu aceito quem eu sou, e celebro a mim mesmo.
Aprendi com o mestre, aprendi com Whitman.
domingo, 8 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
O astrônomo
"Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram enfileirados diante de mim,
Quando me foram mostrados os mapas e diagramas a somar, dividir e medir,
Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências,
Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo,
Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo
No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes
Olhei em perfeito silêncio para as estrelas."
Walt Whitman
Quando as provas, os números foram enfileirados diante de mim,
Quando me foram mostrados os mapas e diagramas a somar, dividir e medir,
Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências,
Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo,
Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo
No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes
Olhei em perfeito silêncio para as estrelas."
Walt Whitman
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
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