"(...) Nada disto é, nem se ignora,
que o amor é fogo, e bem era
tivesse por berço as chamas
se é raio nas aparências.
(...) É glória que martiriza,
uma pena, que receia,
é fel com mil doçuras,
favo com mil asperezas
(...) um antídoto que mata,
doce veneno que enleia,
(...)uma esperança sem posse,
uma posse que não chega,
desejo, que não se acaba,
ânsia que sempre começa
(...)um estrago que se busca
ruína que lisonjeia
(...) um maltrapilho, um ninguém,
que anda hoje nestas eras
com o cu à mostra, jogando
com todos o cabra-cega
(...) o amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta."