"Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam
próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um
urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças
deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos,
um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade
policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.
Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.
Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.
Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.
Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício."
Ilustração: Evandro Marenda