Delego* não só ao meu tédio, como a todo resto, a minha falta de mitologia, a minha falta de fé. Seria fé o que nos faltou? Sei que só sou turbulenta próxima das bordas, na superfície da pele, além disso, sou só paz, seja a dita paz da angústia, ou aquela , escondida na luz dura da lua, a paz triste.
Sei entender todas elas, como se as tivesse inventado.
Mas retorno aonde comecei, fora a falta de fé o que havia nos condenado?
Lembro-me de alguém ter me dito que é preciso três mil anos de prece para deitar-se ao lado de quem se ama. Uma vez tive essa sorte, não pude fazer nada, e agora mais ainda, estando tudo findo e acabado, e ademais, sei que se a minha mente não for suficientemente forte, meu pudor será.
Essa falta de mitologia me adoece, me entrego ao bater de ombros, porque ela não está, e nem eu estou, enfim...
Mas delego isso à falta de mitologia**.
Então me recordo de ser também, meio pagã.
E de guardar comigo, as flores no regaço.
*E quando digo "delego" na verdade quero dizer qualquer outra coisa como: "culpar" ou "responsabilizar"
** De novo, esse malabarismo semântico, linguístico, seja como for (o mesmo bater de ombros)