Vejo a minha mãe (vó) ir entregar flores moribundas para o amor da vida dela q morreu ao seu lado ( e na minha frente) num acidente de carro ( que pode nem mesmo ter sido um acidente)
Olho pra fora e vejo o lugar onde trabalhava o moço da floricultura
Que se matou ( na frente do filho)
Enforcado pelo próprio cinto
E fico lembrando como ele era dócil
E foco pensando como pessoas dóceis podem fazer coisas brutais
Por um momento parece que eu sinto mais por ele, um desconhecido , uma pessoa que eu mal conhecia
Que talvez fosse bipolar ( que nem eu)
Ou borderline ( como elas)
Pessoas que eu amei
E como eu não posso nem.com as pessoas que amei
Docilidade e brutalidade embrenhadas umas na outra
Docilidade e brutalidade
Também do que eu sou feita
Brutalidade da morte de um aluno que ninguém mais liga
Que é banal
Brutalidade ao ver uma estatua branca toda trabalhada e ver o caixão de madeira sem acabamento, o túmulo sem nome, um risco de giz com a data
A dignidade escorrendo por um bueiro imundo
Onde cresce um musgo que ainda luta para sobreviver
Nada aqui faz sentido
E eu só observo
E sinto
Nada fazer sentido