quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

"Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores.", relembrei quando estava na cozinha. Não sei bem como passei esses dias, só me lembro que estava sozinha.
"Então....Você se considera uma suicída?" ele me perguntou apertando a caneta contra o papel.
"Suicída, é pra quem morre", eu disse.
"Ah então é essa nomenclatura que você usa?"
,
me perguntou se eu havia gostado da sessão.
Não voltei lá nem paguei seus honorários, por não ter dinheiro mas também, por achar que de alguma maneira estranha ele havia flertado comigo.
"Até que eu permaneci bem esses dias", refleti comigo mesma, "Ainda estou aqui"
mas isso não quer dizer nada. E não quer dizer por que, simplesmente não era "O" dia.
E "nessa" "nomenclatura" quer dizer que se matar no dia errado, soa para mim como um assassinato.
Eu gostaria de falar melhor sobre isso mas normalmente as pessoas não recebem bem, por isso tenho que escrever.
É necessário um humor muito específico, um dia em que se diz "não se preocupem, eu mesma me encarrego das flores" e talvez essa seja uma metáfora (muito específica) para quem queira se matar. 
Eu terminaria o livro , se não fosse entediante; "Mrs. Dalloway me perdoe os maus modos e a ignorância, eu terminaria seu livro se não fosse tão entediante que me dá vontade de me matar".
Entenderam a piada?
Ela me diria que sou péssima nisso,
nessa coisa de fazer piadas.
Diria também que sou infantil
e que já não consegue enxergar o porque se apaixonou por mim.
Não pergunte a mim! Eu tenho zero motivos para me apaixonar por mim!

um barco a deriva

Mrs. Dalloway, te observo, mas não posso te deter.