"Mrs. Dalloway disse que ela mesma iria comprar as flores.", relembrei quando estava na cozinha. Não sei bem como passei esses dias, só me lembro que estava sozinha.
"Então....Você se considera uma suicída?" ele me perguntou apertando a caneta contra o papel.
"Suicída, é pra quem morre", eu disse.
"Ah então é essa nomenclatura que você usa?"
,
me perguntou se eu havia gostado da sessão.
Não voltei lá nem paguei seus honorários, por não ter dinheiro mas também, por achar que de alguma maneira estranha ele havia flertado comigo.
"Até que eu permaneci bem esses dias", refleti comigo mesma, "Ainda estou aqui"
mas isso não quer dizer nada. E não quer dizer por que, simplesmente não era "O" dia.
E "nessa" "nomenclatura" quer dizer que se matar no dia errado, soa para mim como um assassinato.
Eu gostaria de falar melhor sobre isso mas normalmente as pessoas não recebem bem, por isso tenho que escrever.
É necessário um humor muito específico, um dia em que se diz "não se preocupem, eu mesma me encarrego das flores" e talvez essa seja uma metáfora (muito específica) para quem queira se matar. 
Eu terminaria o livro , se não fosse entediante; "Mrs. Dalloway me perdoe os maus modos e a ignorância, eu terminaria seu livro se não fosse tão entediante que me dá vontade de me matar".
Entenderam a piada?
Ela me diria que sou péssima nisso,
nessa coisa de fazer piadas.
Diria também que sou infantil
e que já não consegue enxergar o porque se apaixonou por mim.
Não pergunte a mim! Eu tenho zero motivos para me apaixonar por mim!

um barco a deriva

Mrs. Dalloway, te observo, mas não posso te deter.

O erro "trimegistro"

É difícil se livrar de maus hábitos.
Se ao menos eles me dessem o que eu procuro...
Como diria T. : Simplesmente, não digno de nota.

Há pouco de mim por aqui, agora.
Todas as coisas ja estão empacotadas e encaixotadas.
Sou de novo estranha em minha própria casa.
Como um barco á deriva, sem âncora nem cais.

Fico olhando o video em modo looping e em silêncio. Nele você olha pela janela de joelhos em cima da cadeira. Você olha pra fora e de repente volta a me olhar , sorri, ri, diz alguma coisa que não consigo entender porque nunca fui boa em ler lábios. E isso sucessivas  vezes. Eu não apareço no video. Digo, apareço de forma quase subliminar,apenas filmando (percebe-se um leve tremor que me denuncia), apenas a gravaçao do som da minha voz poderá provar a minha presença naquele exato momento. Mas assistindo assim sem som, passo despercebida,
a protagonista é você.

"Tanta solidão por vezes pode nos deixar insanos"

Reparei que as plantas não haviam morrido, aquelas, que você me pediu pra não regar enquanto viajava, aquela que era uma minha e uma sua, e com o impacto se desprenderam das raízes e da terra, se desprenderam mas ainda viviam, lado a lado. Um pouco se assemelham à gente. 

Pensei se levaria a minha parte comigo, ou se deixaria como lembrança do que poderíamos ter sido.

Não foi preciso nenhum  oráculo para dizer que acabou

Você nunca deixou de ter esse desacerto com o mundo, de verdade você sabe, que é a sua natureza.

"Você nunca pertenceu ao castelo"/ "Nikdy jsi nepatřil do hradu"

quando você viu essa frase no projetor imediatamente tomou como sua.

<<de alguma forma, todos acreditam que podem humilhar-te, é um comportamento pelo qual são atraídos quando te vêem.>>

Se eu fosse uma boa botsatva, humilhação , não seria humilhação para mim, um espírito inquebrantável. Mas acontece que concordo com eles, e a humilhação me serve como uma veste.

E.H., 10 anos após escrever "O velho e o mar", se mata com um tiro no peito, creio que com a mesma arma do pai.

Ele apanhou o grande peixe
mas não sobreviveu até chegar à praia
ninguém nunca soube do seu feito


não importou


ele está morto agora

ele não suportou
ele sabia do que se tratava
que nada na verdade importa
é só você, com um tiro no peito
você num barco em meio ao mar
"Lasciate ogni speranza voi ch'entrare"
e não espere voltar para buscá-la depois

"Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate"

Cosme e Damião / Erê / Ibeji

Iemanjá
Você que é mãe de todos os orixás
Cuida da minha cabeça

Iemanjá
Você que é a mãe das águas
Cuida dos meus pensamentos

Iemanjá
Seja como for me cuide
Seja como for

(...)Vi a primeira cabeça ferida de morte mas a chaga mortal foi curada (...) foi lhe dado fazer guerra aos santos e vencêlos (...)


Rolei na terra
A benção Atotô
Seu xaxará
A ferida secou

Benfazeja se faça 
bem fazer o bem
que todo revés se dobre 
que sejas teu refém
todo dia e todas as eternidades
dentro delas tudo cabe
dentro do eterno tudo se move
até que tudo se transforme

Nem tudo é o que parece
Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é

Nem tudo é o que parece

Nem tudo que parece é