Zênite:
"o amor é um pássaro rebelde"
Paraísos zênicos
Labirintos de Ícaro
-A doença, as rugas, não limpam a alma
-O retorno não cura a partida
....
Queria era cerzir sua alegria carinhosamente
(perigo era adentrar em mais um labirinto zênico)
para mover-me era preciso ser extático
para ser puro: o asco
quarta-feira, 31 de julho de 2013
Não te eleves
"Não te eleves: o céu é demasiado alto; lá em cima apenas o que não consegue cair."
Gonçalo Tavares
Gonçalo Tavares
Os braços
"Como viver? Não há outra pergunta séria.
Um velho com o braço direito partido
folheia o jornal com a mão esquerda
Penso: assim seria mais fácil.
O corpo a decidir por nós.
Olho para mim: os dois braços intactos.
Que fazer?"
Gonçalo Tavares - "1" Poemas
Um velho com o braço direito partido
folheia o jornal com a mão esquerda
Penso: assim seria mais fácil.
O corpo a decidir por nós.
Olho para mim: os dois braços intactos.
Que fazer?"
Gonçalo Tavares - "1" Poemas
segunda-feira, 29 de julho de 2013
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Ele quis me desenhar como forma de nunca me esquecer. Era tarde e frio, e não nos vimos mais do que duas horas. Disse que eu tinha: "olhos de difíceis contornos, cabelos de movimentos leves, lábios macios...", lábios estes que ele nunca provou. Mal sabe ele que eu sou também tempestade além de "serena e distante", mas distante sim, por vezes intangível, por vezes inalcançável, como ele está prestes a descobrir.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Stalker - Tarkovski
"Que acreditem.
Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão, na
realidade, não é energia espiritual...
mas apenas fricção entre a alma
e o mundo externo.
O mais importante é que acreditem
neles próprios...
e se tornem indefesos como
crianças..."
Que riam das suas paixões.
Porque o que consideram paixão, na
realidade, não é energia espiritual...
mas apenas fricção entre a alma
e o mundo externo.
O mais importante é que acreditem
neles próprios...
e se tornem indefesos como
crianças..."
domingo, 21 de julho de 2013
...
"Sois todos esses deuses , turvos e discretos:
Homem ninguém sondou-te as furnas mais estranhas
ó mar, ninguém tocou-te as íntimas entranhas
Tão ciumento que sois de vossos bens secretos"
Charles Baudelaire - "As Flores do Mal"
sábado, 20 de julho de 2013
sexta-feira, 19 de julho de 2013
sobre o filme "Un homme qui dort"
"Da Terra, por prazer, faria um só detrito.
E num bocejo imenso
engoliria o mundo"
Charles Baudelaire - "As Flores do Mal"
E num bocejo imenso
engoliria o mundo"
Charles Baudelaire - "As Flores do Mal"
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Canção Revoada - Leo Fressato
"Eu sei que passou
Que nunca mais terei
Seu amor de fato
Não adianta eu falar em latim
Se o teu povo é hebraico
Como o teu verso esquecido na flor
Isso não é pecado
Como quem cura se esquece da dor
E esqueceu meus afagos
Nunca mais passeou no jardim dos teus sonhos
Que eu mesmo tratei de cuidar
E que não adianta eu regar feito um louco
Se ninguém vai passar [...]"
Que nunca mais terei
Seu amor de fato
Não adianta eu falar em latim
Se o teu povo é hebraico
Como o teu verso esquecido na flor
Isso não é pecado
Como quem cura se esquece da dor
E esqueceu meus afagos
Nunca mais passeou no jardim dos teus sonhos
Que eu mesmo tratei de cuidar
E que não adianta eu regar feito um louco
Se ninguém vai passar [...]"
terça-feira, 16 de julho de 2013
Estar sendo. Ter sido.
"Tranca-me. Teus ares de luta
têm o corpo dos pátios devastados
Esses que se sonharam cordas
E por que não cadeados de volúpia?
Deita-te.
Laça-me os pés. Beija-me os passos
Para o cárcere da minha volta.
Sonha navios. Ocasos.
Sonha-me trancado. Teu."
Hilda Hilst - Estar sendo. Ter sido.
têm o corpo dos pátios devastados
Esses que se sonharam cordas
E por que não cadeados de volúpia?
Deita-te.
Laça-me os pés. Beija-me os passos
Para o cárcere da minha volta.
Sonha navios. Ocasos.
Sonha-me trancado. Teu."
Hilda Hilst - Estar sendo. Ter sido.
segunda-feira, 15 de julho de 2013
Hã
"Alguém que suporto -
um mestre de indignação...
feito por um soldado
convertido às letras : que poderia
atirar, um homem pela janela
mas ser "terno como as plantas"
dizer, "Meu deus! as violetas!"
Ana Cristina César
Flores do Mais
"Devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés"
Ana Cristina César
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés"
Ana Cristina César
domingo, 14 de julho de 2013
"Lucas,sus luchas con la Hidra" - Júlio Cortázar
"Ahora que se va poniendo viejo se da cuenta que no esta facil matarla.
Ser una hidra es fácil, pero matarla no, porque se bien hay que matar la hidra cortandole sus numerosas cabezas (de siete a nueve según los autores o bestiários consultables) , es preciso dejarle por lo menos una,puesto que la hidra es el mismo Lucas y lo que quisiera es salir de la hidra pero quedarse en Lucas, pasar de lo poli a lo unicéfalo. Ahí te quiero ver, dice Lucas envidiándolo a Heracles que nunca tuvo tales problemas con la hidra y que despúes de entrarle a manoble limpio la dejo como una vistosa fuente de la que brotaban siete o nueve juegos de sangre. Una cosa es matar a la hidra y otra ser esssa hidra que alguna vez fue solamente Lucas y quisiera volver a serlo.[...]"
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Olivier Messiaen
"Meu desejo secreto levou-me em direção a essas espadas de fogo, a essas bruscas estrelas, a essas torrentes de lava azul-laranja, a esses planetas turquesa, a esses violetas, a esses grenás de arborecências cabeludas, a esses turbilhões de sons e de cores em confusões de arco-íris"
https://www.youtube.com/watch?v=8PjyCpRKDrk
terça-feira, 9 de julho de 2013
O Incansável-jogador-de-baldes-de-água-da-rua-Paula-Gomes
Tem um cara na Paula Gomes que, dizem, joga baldes de água nas pessoas que passam na rua. Quando passei na Paula Gomes domingo passado me deparei com o sujeito, que do alto do pequeno edifício, jogava baldes e mais baldes nos passantes. A calçada estava encharcada, e é claro, sem ninguém sentado em suas beiradas, mas o fato foi que por desconhecimento de minha parte, quase levei uma baldada também. Ele joga os baldes e diz: "Sim, dizem que a mulher é o sexo frágil, mas a verdade é que eu gosto delas assim, bem molhadinhas" e joga os baldes de água e dá uma risada jocosa e maligna. Passei uma hora depois e ele ainda estava jogando baldes. Minha amiga me disse que acham que ele é esquizofrênico, e que quanto às desordens não se sabe bem , mas que com certeza - e quanto a isso todos concordavam - ele haveria de receber uma grande conta de água no final do mês. E assim foi.
Vermelho Amargo
"A irmã carregava os olhos secos, as mãos cruzadas sobre o coração e raramente se debruçava na janela. As pedras mais antigas, que engravidavam a terra, invejariam seu deserto"
Bartolomeu Campos de Queiroz
Vermelho Amargo
"O livro aberto era seu berço e seu barco, em suas páginas ela se transmutava. Eu suspeitava que o embaraço das letras amarrava segredos que só o coração decifra. Mas uma certeza me vigiava: ler era meu único sonho viável."
Do livro "Vermelho Amargo" de Bartolomeu Campos de Queiroz
sábado, 6 de julho de 2013
O umbigo do muro
Pûs meu dedo no umbigo do muro
ele era cheio de musgo
e verde
Espalhei um pouco do verde na folha:
não pegou,
ficou um meio áspero
mas o verde ficou no meu dedo
Em seguida vi uma lagarta branca
petrificada
fazia sol...
Desconfio que ela olhou nos olhos
de outra lagarta medusa.
ele era cheio de musgo
e verde
Espalhei um pouco do verde na folha:
não pegou,
ficou um meio áspero
mas o verde ficou no meu dedo
Em seguida vi uma lagarta branca
petrificada
fazia sol...
Desconfio que ela olhou nos olhos
de outra lagarta medusa.
sexta-feira, 5 de julho de 2013
A terceira morte
Escrever, publicar,
Uma execução pública, porque não?
Viver, estar-exposto,
A não-existência precede a existência que precede a não-existência.
Viver na memória de outrem, para então morrer finalmente.
A não-existência precede a existência que precede a não-existência.
Viver na memória de outrem, para então morrer finalmente.
A nossa condição de não-existência é infinitamente maior que a nossa própria existência.
Não viver, não vivenciar:
Aí há alguma dignidade.
Guardar as flores no regaço, isso eu sei,
Sou prática na arte de não me lançar à nada,
De só me lançar ao nada,
À minha terceira morte.
quinta-feira, 4 de julho de 2013
As Linhas da Mão - Júlio Cortázar
"De uma carta jogada em cima da mesa sai uma linha que corre pela
tábua de pinho e desce por uma perna. Basta olhar bem para descobrir que
a linha cotinua pelo assoalho, sobe pela parede, entra numa lâmina que
reproduz um quadro de Boucher, desenha as costas de uma mulher reclinada
num divã e afinal foge do quarto pelo teto e desce pelo fio do
pára-raios até a rua. Ali é difícil segui-la por causa do trânsito, mas
prestando atenção a veremos subir pela roda do ônibus estacionado na
esquina e que vai até o porto. Lá ela desce pela meia de nylon da
passageira mais loura, entra no território hostil das alfândegas, sobe e
rasteja e ziguezagueia até o cais principal, e aí (mas é difícil
enxergá-la, só os ratos a seguem para subir a bordo) atinge o navio de
turbinas sonoras, corre pelas tábuas do convés de primeira classe, passa
com dificuldade a escotilha maior, e numa cabine onde um homem triste
bebe conhaque e ouve o apito da partida, sobe pela costura da calça,
pelo jaleco, desliza até o cotovelo, e com um derradeiro esforço se
insere na palma da mão direita, que nesse instante começa a fechar-se
sobre a culatra de um revólver."
Do livro "Histórias de Cronópios e Famas"
quarta-feira, 3 de julho de 2013
tema e variações
Dos cômodos
sou a ante-sala
Passeiam por mim
com pressa e
distraidamente
Da música sou o prelúdio
daqueles a quem se anseia
a chegada
do primeiro movimento.
Dos pratos, a entrada
Dos livros, o índice
Das cartas, a despedida
Do cinema, o bilhete.
sou a ante-sala
Passeiam por mim
com pressa e
distraidamente
Da música sou o prelúdio
daqueles a quem se anseia
a chegada
do primeiro movimento.
Dos pratos, a entrada
Dos livros, o índice
Das cartas, a despedida
Do cinema, o bilhete.
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