Evídio, se você soubesse o quanto eu sinto sua falta, o
mundo parecia mais razoável quando te via, parecia mais certo. Não tinha ainda,
as bolhas no estômago, não importa bem as ordens, o passado ou futuro, o mundo
era outro. Minha alegria era ver Evídio, e passar por fora dos seus muros a contemplar, e escrevia coisas como “ Ainda
que fossemos inteiros” , e gostava de rimar, e de sair andando por aí
procurando coisas pequenas para admirar ou para sentir. Evídio estava no centro
do mundo e era eterno, a qualquer um que eu dissesse isso pareceria louca, mas
não importa, só eu conheci Evídio, só eu sabia que ele estava no centro do
mundo, e que governava sozinho todos os tempos, sentado em sua cadeira sem balanço, que nem
vento não alcançava, com a boina na
cabeça ; Eu gostava quando éramos puros, mas Evídio eu sei, eu sei que sempre
fora puro, que jamais tinha errado, todos os seus erros ficaram para mim, em
mim. Evídio, por onde andas? Por quais
veredas celestiais? Canto o mesmo lamento de Orfeo, minha dor, nem as tragédias
mais gregas alcançam, meu abandono, bem maior
que cem anos de solidão, meu tédio, minha descrença, nem Fernando Pessoa. O que
então? Minha loucura, essa coisa de queimar fósforos, engolir pílulas, engolir
mais pílulas para curar as pílulas, a cura que não cura. De onde estou parece
não haver saída, eu não sinto a saída, acho que foi isso, desde que evidio se
foi o mundo desmoronou, foi assim que tudo começou.