Deixa eu caber nos teus espaços vazios
me embaralhar nas tuas cartas,
nos teus vestidos
tão cheios de pó
Deixa eu entrar no teu armário embutido
te embaralhar nas minhas causas,
nos meus motivos
(tão cheios de nós)
domingo, 31 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
"GUARDA-TE AGDA, é tempo de guardar, o fruto dentro da mão, espia apenas, como poderás tocar com a tua mão amarela esse que diz que te ama, esse tênue, Agda, começa o de sempre, cuida dos porcos, limpa o pátio, põe água nos cáctus, examina as avencas, os anúrios, lenta lenta caminha, como estás velha há tempos, e tanto nessa manhã."
Kadosh - Hilda Hilst
quarta-feira, 27 de março de 2013
(rascunhos)
Já moça sofria de dores incabíveis,
tão senis
Seus olhos eram antigos,
de um cinza escondido,
não condiziam com sua aparência jovial
embora descuidada
Treinara por muitos anos
em ser invisível
em parecer de um modo
que despertasse no máximo, indiferença
costumes de pedra
"hermeticamente fechadas"
como eram de Wislawa
Fez do Cândido, um tormento
Do pálido, sua aquarela.
tão senis
Seus olhos eram antigos,
de um cinza escondido,
não condiziam com sua aparência jovial
embora descuidada
Treinara por muitos anos
em ser invisível
em parecer de um modo
que despertasse no máximo, indiferença
costumes de pedra
"hermeticamente fechadas"
como eram de Wislawa
Fez do Cândido, um tormento
Do pálido, sua aquarela.
terça-feira, 26 de março de 2013
Paisagem
"Sem perceberes roubas a paisagem a tua frente e ela engasta lá no teu de dentro e ficas novo sem deixares de ser esse Tadeu."
Hilda Hilst - "Tu não te moves de ti"
Hilda Hilst - "Tu não te moves de ti"
O fim e o início (trechos)- Wislawa Szymborska
"Depois de cada guerra alguém tem que fazer a faxina
(...)
Alguém tem que se atolar no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados
(...)
As pontes têm de ser refeitas,
e também as estações
De tanto arregaçá-las,
as mangas ficaram em farrapos
(...)
Na relva que cobrem, as causas e os efeitos
alguém deve se deitar com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens."
(...)
Alguém tem que se atolar no lodo e nas cinzas
em molas de sofás
em cacos de vidro
e em trapos ensanguentados
(...)
As pontes têm de ser refeitas,
e também as estações
De tanto arregaçá-las,
as mangas ficaram em farrapos
(...)
Na relva que cobrem, as causas e os efeitos
alguém deve se deitar com um capim entre os dentes
e namorar as nuvens."
sexta-feira, 22 de março de 2013
"A única maneira de teres sensações novas é construires-te uma alma nova. Baldado esforço o teu se queres sentir outras coisas sem sentires de outra maneira, e sentires-te de outra maneira sem mudares de alma. Porque as coisas são como nós as sentimos — há quanto tempo sabes tu isto sem o saberes? — e o único modo de haver coisas novas, de sentir coisas novas é haver novidade no senti-las.
Mudar de alma. Como? Descobre-o tu.
Desde que nascemos até que morremos mudamos de alma lentamente, como do corpo. Arranja meio de tornar rápida essa mudança, como com certas doenças, ou certas convalescenças, rapidamente o corpo se nos muda."
Fernando Pessoa
Aurora
Aurora é preta,
diz que vai rezar a vida toda por mim
diz que eu sou bonita
bonita é ela!
Faz dez anos que vai ao terreiro
e diz com fervor que é católica,
Sei lá, vai ver Deus também tem lá seu suingue
"Salve Aurora que Oxalá mandou"!
diz que vai rezar a vida toda por mim
diz que eu sou bonita
bonita é ela!
Faz dez anos que vai ao terreiro
e diz com fervor que é católica,
Sei lá, vai ver Deus também tem lá seu suingue
"Salve Aurora que Oxalá mandou"!
quarta-feira, 20 de março de 2013
Aqui me vou mexendo
" A vida atira-nos como uma pedra, e nós vamos dizendo no ar "Aqui me vou mexendo"
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Museu - Wislawa Szymborska
"Há pratos, mas falta apetite.
Há alianças, mas o amor recíproco se foi
há pelo menos trezentos anos.
Há um leque - onde os rubores?
Há espada - onde a ira?
E o alaúde nem ressoa na hora sombria.
Por falta de eternidade
juntaram dez mil velhacarias (...)
A coroa sobreviveu à cabeça.
A bota direita derrotou a perna.
Quanto a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha competição com o vestido continua.
E que teimosia a dele!
Como ele adoraria sobreviver!"
Há alianças, mas o amor recíproco se foi
há pelo menos trezentos anos.
Há um leque - onde os rubores?
Há espada - onde a ira?
E o alaúde nem ressoa na hora sombria.
Por falta de eternidade
juntaram dez mil velhacarias (...)
A coroa sobreviveu à cabeça.
A bota direita derrotou a perna.
Quanto a mim, vou vivendo, acreditem.
Minha competição com o vestido continua.
E que teimosia a dele!
Como ele adoraria sobreviver!"
terça-feira, 19 de março de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
domingo, 17 de março de 2013
segunda-feira, 11 de março de 2013
Falo com o guardador de livros, não sei se é mesmo ele quem guarda os livros ou se são eles que o guardam (aquela coisa que a literatura salva), ele me entende, vive entre os livros, entende o que é ser/estar solitário. Me acusaram de ser do signo de leão, as pessoas me acusam muito, tomam tanto tempo da vida para me acusar e para quê? Minha dor é particular, não é de domínio público, não quero explicá-la , nem fingi-la, falo com o guardador de livros pois não preciso entrar no mérito de nenhuma dessas questões, ele mesmo já sabe a priori de tudo isso, não me culpa por também estar cercada de livros que coloco como minha primeira realidade, ele já viveu-a , ele sabe.
domingo, 10 de março de 2013
Evídio, se você soubesse o quanto eu sinto sua falta, o
mundo parecia mais razoável quando te via, parecia mais certo. Não tinha ainda,
as bolhas no estômago, não importa bem as ordens, o passado ou futuro, o mundo
era outro. Minha alegria era ver Evídio, e passar por fora dos seus muros a contemplar, e escrevia coisas como “ Ainda
que fossemos inteiros” , e gostava de rimar, e de sair andando por aí
procurando coisas pequenas para admirar ou para sentir. Evídio estava no centro
do mundo e era eterno, a qualquer um que eu dissesse isso pareceria louca, mas
não importa, só eu conheci Evídio, só eu sabia que ele estava no centro do
mundo, e que governava sozinho todos os tempos, sentado em sua cadeira sem balanço, que nem
vento não alcançava, com a boina na
cabeça ; Eu gostava quando éramos puros, mas Evídio eu sei, eu sei que sempre
fora puro, que jamais tinha errado, todos os seus erros ficaram para mim, em
mim. Evídio, por onde andas? Por quais
veredas celestiais? Canto o mesmo lamento de Orfeo, minha dor, nem as tragédias
mais gregas alcançam, meu abandono, bem maior
que cem anos de solidão, meu tédio, minha descrença, nem Fernando Pessoa. O que
então? Minha loucura, essa coisa de queimar fósforos, engolir pílulas, engolir
mais pílulas para curar as pílulas, a cura que não cura. De onde estou parece
não haver saída, eu não sinto a saída, acho que foi isso, desde que evidio se
foi o mundo desmoronou, foi assim que tudo começou.
Assinar:
Postagens (Atom)