quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A construção de Ítaca

Colocar-me à prova, por que não?Construir de próprio punho e esforço Ítaca sob meus pés!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Muros

Sem cuidado nenhum, sem respeito, nem pensar,
ergueram a minha volta altos muros de pedra
E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio me depreda.
E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.
Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fosse
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.  

Konstantinos Kaváfis

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

As Ítacas de Kaváfis

"Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes 
nem o colérico Poseídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás 
se altivo for teu pensamento, se sutil 
emoção teu corpo e teu espírito tocar.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes,
nem o bravio Poseídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
E agora sabes o que significam Ítacas"

Konstantinos Kaváfis

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

No caminho para casa eu vi dois anjos verdes se debatendo, a lua ascendia alta e redonda, até que eu me desse conta dela e voltasse, tímida, a se esconder no escuro.Eu me perguntava o porquê da aflição dos anjos: - Até os anjos! Até os anjos verdes estão tristes,cobertos de uma melancolia sagrada e celestial!Via-os se debater sem perder a inocência , sem ter culpa,com medo da noite,com o desespero de ser anjos e mesmo assim,sem esquecer de deixar a tristeza na mesa de cabeceira.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Oração do Avesso - trecho


Que Deus permita que eu me despedace,
Que me dê a glória da ruína
O andar do cocho
o joio, o mal
Que Deus permita que eu me abandone
e que viva de ilusão e de ilusão pereça
Que Deus permita que eu retorne ao pó
que me negue, até desaparecer
Que Deus destelhe a minha casa
e me faça ter saudade da dor
Que Deus me negue esparadrapos, pontes,
as mais belas canções
e que eu nunca viva um grande amor
e que me permita
essa paixão descomedida
pela tristeza, que eu quero ter.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Quem dera tudo fosse feito de "inebriantes instabilidades", mas ao que parece nesse balanço entre inquietações definidas e indefinidas tudo muda, e o que era importante a princípio já não o é ao final. Mudam as circunstâncias, e de que valem as lembranças? Elas nos mastigam, elas nos corroem, já dizia a Lithost, esse seu passado a que não pertenci, já dizia o futuro do pretérito; enquanto isso eu fico pensando em três ou quatro tempos verbais ao falar com você, o que se torna cansativo para mim, e cansativo para mim é sonhar sozinho, ou sonhar dobrado, é ter que requerer a uma burocracia de cuidados que só servem para mim e para mais ninguém. E logo logo tudo passará, e dará lugar para outra inquietação sem nome destas, as quais, também não sei resolver. 
Tenho ainda comigo: Freud, Nietzsche, Skinner e seus ratos, filosofias orientais e nem sei, nem sei por onde ir,só penso que esta dor deve pertencer a mais de uma vida, uma, duas, três mil vidas e parece que será sempre assim, por todas essas minhas vidas, a partir desta mesmo de agora, pois não me lembro de nenhuma outra. 
...ela me corta com seus gestos, ela me mata me deixando tocá-la, me machuca com a pior das navalhas, e o nosso fim é pintado de vermelho, vermelho feito os lábios dela. Skinner me faria pintar tudo de verde, disfarçar as tristezas, ela me castiga com seu vermelho. A moça do outro quarto faz um grito rouco e eu não sei se de susto ou de emoção, de prazer , dor ou descontentamento e ela parece não se importar ou pinta de verde o seu vermelho. Eu grito a partir do meu estômago, e ouso dizer que todo amor se resume a isso. A fisiologia não mente para mim, aliais , me denuncia e eu penso em soluções mais amenas, eu continuaria mentindo, a não ser que finalmente desistisse de tudo e então, eu mentiria de vez.

Nosso fim é pintado de vermelho como os lábios dela.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

"Ainda, embora parcialmente, sou Borges" Jorge Luís Borges


"O mundo é uma mentira, a glória - fumo,
A morte - um beijo, e esta vida um sonho

Pesado ou doce, que s'esvai na campa!
O homem nasce, cresce, alegre e crente
Entra no mundo c'o sorrir nos lábios,
Traz os perfumes que lhe dera o berço,
Veste-se belo d'ilusões douradas,
Canta, suspira, crê, sente esperanças,
E um dia o vendaval do desengano
Varre-lhe as flores do jardim da vida
E nu das vestes que lhe dera o berço

Treme de frio ao vento do infortúnio!
Depois - louco sublime - ele se engana,
Tenta enganar-se p'ra curar as mágoas,
Cria fantasmas na cabeça em fogo,
De novo atira o seu batel nas ondas,
Trabalha, luta e se afadiga embalde
Até que a morte lhe desmancha os sonhos.
Pobre insensato - quer achar por força
Pérola fina em lodaçal imundo!
- Menino louro que se cansa e mata
Atrás da borboleta que travessa
Nas moitas do mangal voa e se perde!..."


Casimiro de Abreu

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Sempre cheguei cedo, ou tarde demais,
Não vi a felicidade acontecer."

Helena Kolody

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

"Forget about your house of cards, and i'll do mine. Forget about your house of cards, and i'll do mine."

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Canção da tarde no campo - Cecília Meireles

Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.