Engole teu coração
ele é cascata, redemoinho:
não presta.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Os cabelos brancos de minha mãe (rascunho)
Assim ó, se você quisesse eu podia te contar uma história engraçada, engraçada mas que na verdade, antes dela ser engraçada ela era uma história triste. Eu podia te contar atrás de um muro ou num sussurro que é pra mais ninguém ouvir, eu podia te contar em meio a um poema e daí você nunca ia saber se era verdade ou não. Sequer importava se a história fosse fato consumado ou pura irrealidade, se não é dessa mesma penumbra que nos alimenta a vida. Porque são histórias e servem para serem contadas, a palavra bem ou mal deve ser dita, para que nada se perca... Pois era mesmo uma história triste , mas de um cômico irresistível.
“EU NÃO VI SURGIREM OS CABELOS BRANCOS DE MINHA MÃE”
-Mas...cabelos brancos?
- E o que é que você esperava com meus 40 e poucos anos?
Éramos ambos passageiros, última parada antes do adeus,
Lhe perguntei:
-
Espera... E como é que você dorme?
Espera... E como é que você dorme?
Risos, pausa ,interjeição, pausa, inspiração, pausa:
- De pé
domingo, 28 de agosto de 2011
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Á um desconhecido - parte 5
Hoje colocaram caco de vidro em cima do muro da casa de Evídio, e bem em frente, no portão, uma placa pendurada: "Aluga-se". Decorei seu número, pensei em ligar e perguntar se dentro da casa havia alguma assombração (só a alugaria sob esta condição), ao invés disso, escrevi uma carta dizendo: - Querido Evídio (ido ídio) eu sei o que você é, um fantasma, eu sei, mas não se preocupe, seu segredo estará bem guardado comigo.Assinado: A.S.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Dançamos mal - embora nunca tenhamos tentado - teus braços não se encaixam bem nos meus, meus passos te assustam, te fazem tropeçar até cair, tua velocidade é outra, e sobretudo somos descordenados, e ao final, você irá recuar, irá inventar a distância, até que eu enfim me afaste, até que a música se acabe.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Conversa com o Psiquiatra
(Maio 2009)
-Onde estava?Perguntou minha mãe secamente.
-Com o único homem da minha vida...
Mirei seus olhos arregalados e completei:
- Meu psiquiatra!
Naquele dia ele havia me perguntado o que havia feito a tarde toda:
- Fiquei criando dúvidas existenciais em meus peixes.
- Como?
- É, assim, eu coloquei um outro peixe em outro aquário e do lado dele um espelho. Ele ficou olhando para os dois, não sabia qual era real, pois a única prova que tinha, era o que podia ver, e os dois eram idênticos.
- Que maldade fazer isso com um peixe!
- Talvez, mas depois quando os juntei, ele é que foi mal. Atacou o outro peixe, talvez ele não aceitasse a realidade..
Ficou pensativo, riu e por fim disse:
- Ah, deixa pra lá, você e suas idéia malucas!
Mirei seus olhos arregalados e completei:
- Meu psiquiatra!
Naquele dia ele havia me perguntado o que havia feito a tarde toda:
- Fiquei criando dúvidas existenciais em meus peixes.
- Como?
- É, assim, eu coloquei um outro peixe em outro aquário e do lado dele um espelho. Ele ficou olhando para os dois, não sabia qual era real, pois a única prova que tinha, era o que podia ver, e os dois eram idênticos.
- Que maldade fazer isso com um peixe!
- Talvez, mas depois quando os juntei, ele é que foi mal. Atacou o outro peixe, talvez ele não aceitasse a realidade..
Ficou pensativo, riu e por fim disse:
- Ah, deixa pra lá, você e suas idéia malucas!
Das nostalgias
Ela me dizia: "História é Saudade", e que todas as coisas que existem hoje eram fruto do que foi, e mais, que se não fosse pela vaidade dos grandes reis como haveríamos de saber o que acontecera com seus súditos? "Acaso Nero seria lembrado se não tivesse incendiado Roma?" e voltava a me repetir: "Saudade é História" e de como tudo que estava acontecendo viraria história e, portanto, haveria de ser lembrado anos mais tarde...E justamente anos mais tarde ela partiu, um oceano de distância, dois continentes, então decidi lhe mandar uma carta dizendo apenas: "Sinto saudades", e ela me respondeu ainda na mesma folha: "Não confunda, não confunda jamais saudade com Nostalgia."
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Os escapistas perfeitos
"Felizes são os que escolhem, os que aceitam serem escolhidos, os belos heróis, os belos santos, os escapistas perfeitos." Júlio Cortázar
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
O jogo da Amarelinha
" O mero fato de nos interrogarmos sobre a possível eleição já vicia e perturba o elegível. [...] Entre o yin e o yang quantos eões? Do sim ao não, quantos talvez? Tudo é escritura, ou seja, fábula. Mas para que nos serve a verdade que tranquiliza o honesto proprietário? A nossa verdade possível tem de ser invenção, ou seja, escritura, literatura, pintura, escultura, agricultura, piscicultura, todas as turas deste mundo. Os valores, turas, a santidade, uma tura, a sociedade, uma tura, o amor , pura tura, a beleza, turas das turas. Num dos seus livros, Morelli fala do napolitano que passou anos sentado á porta de sua casa , olhando um parafuso no chão. De noite, pegava-o e guardava-o debaixo do colchão.O parafuso foi primeiro uma simples piada, uma gozação, uma irritação comunal, reunião dos vizinhos, sinal de violação dos direitos cívicos, e finalmente um encolher de ombros, a paz, o parafuso foi a paz, ninguém podia passar pela rua sem olhar de soslaio para o parafuso e sentir que ele era a paz. O sujeito morreu de uma síncope, e o parafuso desapareceu assim que os vizinhos chegaram. Um deles o guardou, talvez o olhe em segredo , o estude por todos os lados, voltando a guarda-lo e indo para a fábrica, sentindo algo que não compreende, uma obscura reprovação. Só se acalma quando retira o parafuso do seu esconderijo e o olha, fica olhando até ouvir passos e ser obrigado a escondê-lo rapidamente. Morelli pensava que o parafuso devia ser outra coisa, um deus ou algo assim. Solução demasiadamente fácil. Talvez o erro tenha sido aceitar que esse objeto fosse um parafuso tão somente por ter a forme de um parafuso. Picasso pega um automóvel de brinquedo e o converte no queixo de um cinocéfalo. É bem possível que o napolitano fosse um idiota, mas também pode ter sido o inventor de um mundo. " [...]
Julio Cortazár
domingo, 7 de agosto de 2011
Tentando alcançar o imaginado, os braços se perdem no ar
O que dizer do pertencer se nem bem conhecemos a natureza real das coisas? Se só possuímos uma idéia delas? As coisas em sí são simples, é a idéia que formamos em cima delas que as tornam incabíveis, complexas, e partir desse princípio, assistimos ao caos moderado que nos rege.
Tentando alcançar o imaginado, os braços se perdem no ar.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
O sentimento do mundo
"Tenho apenas duas mãos, e o sentimento do mundo"
Mãos Dadas
"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente. "
Carlos Drummond de Andrade
Mãos Dadas
"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente. "
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
A realidade não bate à porta
A realidade não bate à porta. Os mais reais não têm tempo a perder com aspirações e desejos, com a beleza do mundo, com o sentido das coisas.Filosofia, arte, poesia, são luxos puramente burgueses. Os mais reais se submetem a serem reais, desaprenderam a sonhar ou nunca tiveram espaço para fazê-lo. Os mais reais teimam em sobreveviver acima de tudo, porquê os mais reais só conheceram o medo. .
A realidade não bate à porta, a arromba.
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