Tudo que se alimenta cresce

Mas eu tenho alimentado isso de uma forma estranha

Então fica como...

Aquela coisa que não anda nem desanda

Flutuando num amor demondas que não andam nem desandam

E no final 

Provavelmente

Irá morrer na praia

Eu diria que é um gostar quase infantil

Por ironia

Irreal

Acho q era assim que M. me pensava

(Isso quer dizer, eu pensando que M. me pensava, sem nenhuma comprovação disso, sendo mera especulação irreal e provavelmente distorcida da realidade)

Mas fato é que M. me queria por perto

Nas cercanias

Uma vez até se encostou no meu ombro

(Uma vez)

Engraçado mas ainda hoje, não me parece ridículo

Não me parece ridículo pensar-sentir o que senti naquele dia

Naquele momento

Aquele momento irreal, parado no tempo, quase quântico

Era um amor ingênuo

(Era amor?)

Era amor? Ou será que hoje já posso dizer-pensar que era como uma obsessão

Uma forma de falta de amor próprio

Que devia ser preenchida somente

Com outro alguém

Já estava na hora de lavar essas roupas sujas

De me lavar

Era uma obsessão, um mal entendido,

Uma quimera de sentimentos

Um "emaranhado de coisas que não andam nem desandam" como ela cruelmente me descreveu

A falta de minha mãe?

A falta de alguém dizer "te amo"

Com essas exatas palavras

 Com esta voz

...

Talvez eu só assim soubesse dizer " eu também"

Com a minha voz

Em voz alta

Declaradamente

Será que alguma vez eu acreditei?

Sendo correspondida...será que alguma vez acreditei?

No que eu dizia

Ou no que o outro me dizia

Cada vez parece mais distante

Agora sou eu que escolho

Mas como é terrível escolher

Esse olhar mecânico

Como se eu também fosse alguma coisa

Mas de algum jeito

De alguma maneira

No fundo

Eu ainda me sinto

Uma mentira