"Em outro, ele morava em país distante, onde todo mundo era preto e ele também. Vivia no coração da montanha mais alta e os moradores avisavam aos estrangeiros que aquela era a casa de um homem jovem, muito grande e muito forte, ferreiro de profissão. O trabalho na forja só era interrompido quando alguém subia a montanha. Ele se dirigia ao incauto e dizia: “O que te traz aqui, viajante? Por que tomaste minha estrada?” Alguns respondiam que andavam a esmo, a procura de um caminho; outros ouviram dizer que se rogassem a ele, o guardião da montanha e da forja, seus caminhos seriam abertos. Ele ria jocoso e indagava: “Como posso te abrir os caminhos se não tens um rumo a seguir?” E então explicava: “Embora aches que me procuras, buscas a ti mesmo e não te faltarei. Mas o caminho deverá ser feito por ti. Posso te conduzir em meus braços, mas a travessia será tua.” “E se eu não quiser, posso desistir?” Ele ri, dessa vez um riso estrondoso, de desdém e malícia. “Não há escolha, humano tolo e incrédulo. Quem chega até aqui é obrigado a atravessar.” “Você me chamou de humano. Você, por acaso, não é gente?” “Não despeje mais tolice do que tua cabeça comporta. Tu vieste aqui para conhecer os teus mistérios, os meus, não te é dado saber. Prepara-te, pois vais atravessar a montanha comigo.”[...]"
Trecho de Dublê de Ogum - Cidinha da Silva
domingo, 25 de novembro de 2018
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