sexta-feira, 29 de julho de 2011

Apenas começamos

"Reconheço meu pesar
Quando tudo é traição,
O que venho encontrar
É a virtude em outras mãos[...]

Tudo passa, tudo passará
[...]
O mundo começa agora
apenas começamos"


Renato Russo -  Metal Contra as Nuvens

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Quanto a ciência

"Sabê-lo-íamos algum dia? E saberiamos o porquê as massas se atraem? a atração era uma palavra cômoda que servia para explicar tudo ; seria mais do que uma palavra? Eramos realmente mais sábios do que os alquimistas de carmona? tinhamos esclarecidocertos fatos que eles ignoravam, e os haviamos agrupado numa dada ordem. mas tinhamo-nos adentrado um só passo no coração misterioso das coisas?a palavra força seria mais clara do que a palavra virtude? a palavra atração mais do que a palavra alma? E quando denominavamos eletricidade a causa destes fenômenos que provocariamos esfregando âmbar num pedaço de vidro, estavamos mais bem informados do que quando chamávamos Deus a causa do mundo?" 

"Quanto as misteriosas realidades que escapam aos nossos sentidos: As forças, os planetas, as moléculas, as ondas, não eram senão um imenso vazio cavado por nossa ignorância e que escondíamos com palavras. Nunca a natureza nos mostraría seus segredos; ela não tinha segredos; nós é que inventávamos perguntas e fabricávamos respostas a seguir: e nunca descobriríamos no fundo de nossas retortas senão os nossos próprios pensamentos"

Simone de Beauvoir - Todos os homens são mortais

Das Crenças

    "Numa de nossas ocasionais conversas fiadas, ontem de noite, disse-me o porteiro: " rato depois de velho vira morcego". Olhei-o atentamente. Era um velho porteiro. Não estava brincando. Devia ser teimoso como todos os velhos. Seria pedante da minha parte tentar convencê-lo de que a sua História Natural não o era muito...Deixá-lo! Afinal, por que os ratos velhos não haveriam de virar morcegos, da mesmíssima forma que as velhas solteironas viram postes no fim de linha? Da mesma forma que os meus leitores desatentos viram fumaça inconsistente e os leitores incrédulos não viram nada...(E daí, você viu ou não viu?!) Pois é uma grande coisa escutar sem contradizer.
   [...]
   E, em criaturas de outro estágio cultural, também existem crenças de que não me seria lícito duvidar. Imaginem se, por acaso, com meus argumentos, eu conseguisse destruí-las! Que teria para lhes dar em troca?
[...]"

Mario Quintana

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Capitú se apaixona pelo mar

( Junho de 2010 )


Em que olhos encontrarei tal imensidão?
Em que cachos de cabelo a circuferência de tuas ondas?
Em que boca igual saciedade que trazes à minha sede?

O homem é uma mortal aventura,
enquanto o mar, avança, recua,
mas não cessa

jamais.

figura: Van Gogh , Seascape at Saintes-Maries
Sabia que deveria seguir por um caminho outro, só não sabia onde, pois se dera conta que todas as ruas e avenidas tinham o seu nome.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sejamos francos, ainda que franqueza pouco tenha a ver com verdade, ou melhor, realidade. E sejamos pouco acomodados, ainda que nossa inquietação, nossa revolta, nada tenha a ver com violência, e seja só desepero, por nós, pelos outros, e principalmente pelos outros, que são o que nos falta. - Sejamos fortes.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Era sempre assim, volta e meia desmanchava tudo e a palavra já não significava. Significava mais o silêncio, que o silêncio é mais antigo, e portanto, guarda mais sabedoria dentro de sí.
O rei era tão orgulhoso que não tirava a coroa nem na hora de dormir. Em sonhos traiçoeiros se imaginava súdito, mas ainda assim, servo de sí mesmo.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Das desmemórias

O menino, curioso das coisas do mundo, havia perguntado ao bisavô como ele havia chegado a certa idade avançada de cento e trinta anos,e ele respondeu:
" Eu sempre tive maior talento para para esquecer do que para lembrar, para desaprender do que para aprender. Antes eu tinha medo que a solidão viesse me engolir e depois guspir meus ossos fora, e tinha medo da morte. Mas então me esqueci da solidão, me esqueci da morte, e a morte esqueceu de mim, e foi assim que se deu."

terça-feira, 19 de julho de 2011

E se perguntasse quais dos meus escritos foram para tí eu diria todos eles, o que você escolhesse para te embalar o sono ou te fazer rir, pois que eu prefiro ser tua comédia do que nada.
Quem sabe se você pudesse habitar por um dia meu corpo, e deixar ali dentro uma parte de sí, mesmo que fosse aquela que você mais detesta, mesmo que fossem teus maiores enganos, teus medos, tuas dúvidas, ou se eu pudesse fazer o mesmo, e adentrar por debaixo de tua pele, só assim talvez eu viesse a te compreender, e até fazer parte do teu mistério, e você do meu...E quem sabe teu corpo viesse salvar meu corpo, e tua alma salvar a minha alma.

domingo, 17 de julho de 2011

Oração

Meu deus, quem senão você pode lidar com essas coincidências? e se não há de concordar comigo que só um deus, por descuido, faria coisas assim, tão desordenadas? beirando um mal improviso, deixando o amor esperar? (se não é por isso mesmo que estamos aqui, então porquê? se não é também o amor uma forma de revolução, ou se tão somente por ele , ou pela falta dele, o que nos transforma?)
Digo sim, em alto e bom tom, pois confesso e peço que esclareça,  pois que estou ciente de que sei poucas coisas, mas desconfio de muitas, e desse desconfiar me apeguei cedo, pelo que passei a duvidar da maioria delas...Mas disso não, meu deus, disso não...que do amor a gente não discorda de nada, só obedece.

terça-feira, 12 de julho de 2011

A casa

No dia posterior a mudança lhe fizeram um telefonema dito urgente, dizendo que haviam roubado a casa:
- Mas não havia nada dentro dela!, ele disse.
Ainda assim os vizinhos insistiram para que viesse o mais rápido possível.
Quando chegou lá entendeu a urgência do chamado: Haviam levado a casa inteira, as paredes, o telhado, a cerca, tudo,
e não deixaram para trás
nem as pedras da calçada.

domingo, 10 de julho de 2011

sobre todas as coisas e coisa nenhuma (manifesto II)

Queria retornar a ser tão viceral quanto era antes, admirava isso nos outros, aqueles que ainda conseguiam sentir, aqueles que ainda se entregavam a algo a que ingênuamente acreditavam, seus olhos haviam visto demais, enxergado demais, seus olhos cansados, que já nem eram seus.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Saramago

"Escrever é fazer recuar a morte, é dilatar o espaço da vida."

domingo, 3 de julho de 2011


Imagens: Henri Cartier Bresson e Alfred Eisenstaedt